Por Adelson Vidal Alves
A filósofa Marilena Chaui desceu
do salto. Deixou Espinoza de lado por uns minutos e disparou: "A
classe média é uma abominação política, porque é fascista, é uma abominação
ética porque é violenta, e é uma abominação cognitiva porque é ignorante”.
O discurso foi
proferido em um evento petista. Chauí não se preocupou com o fato de estar
atacando a si mesma, seus pares uspianos e grande parte de seus alunos. Seu
único objetivo era ser porta voz da nova estratégia governista de eleger
inimigos a serem batidos.
No
marxismo vulgar, esquemático e mecânico, a classe média é uma aberração, por
que não estava prevista nos planos de Marx. Para o teórico comunista, o mundo
se tornaria cada vez mais proletarizado, e os trabalhadores, ainda mais
miseráveis. Seriam estas, condições indispensáveis para a revolução. Porém, o “diabólico”
capitalismo foi capaz de elevar parcela significativa da classe trabalhadora a
padrões razoáveis de consumo. Em outras palavras, fez desta parcela, classe média.
Diante
disso, o que esquerda deveria fazer com a classe média? Simples. Ou atraí-la,
ou atacá-la. Quando esta fundou o PT, era tratada como progressista, aliada dos
trabalhadores. Mas quando o PT, por volta de 2005, segundo o belo livro do
sociólogo André Singer, perdeu suas bases eleitorais da classe média, deslocando-se para o subproletariado e os
grotões de miséria do Norte e nordeste, ela virou “elite branca reacionária”.
Ora,
qualquer sociologia minimamente séria sabe que não existe classe média, mas sim
“classes médias”. Não podem responder por uma ideologia única, pois são
plurais, e se organizam dentro de movimentos e discursos de esquerda, de centro
ou de direita.
Os
que saem hoje nas ruas contra o PT não são unicamente da classe média, nem essa
é una em sua atuação. Como todas as classes, podem guardar interesses comuns,
corporativos mesmo, mas jamais devem ser adjetivadas de forma estática e homogênea.
As classes médias brasileiras têm faces diversas, e lugares diversos na luta de
classes. Tentar dar a ela um único rosto é equívoco ou desonestidade
intelectual.
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