Por
Adelson Vidal Alves
A
revolução russa de 1917, junto com a Primeira grande guerra, abriu o breve
século XX, para usar o termo do renomado historiador Eric Hobsbawn. Sua derrocada, ainda, encerrou o mesmo século,
quando em 1991 a URSS é desintegrada e a longa disputa ideológica da Guerra
fria se encerra. O golpe do fim do regime soviético atingiu todo o movimento
comunista internacional, que desde então, nunca mais foi o mesmo.
Nos
dias atuais poucos países reivindicam-se comunistas. São os casos da Coreia do
Norte, China e Cuba. Em comum, o fato de manterem o unipartidarismo e o
autoritarismo político. Com exceção da China, integrada a globalização,
mantém-se fechados ao mundo e passando por grandes dificuldades econômicas. Os
mais direitistas diriam que o comunismo está morto. Estaria mesmo?
É
fato que a grande parte das análises sobre os erros na história do comunismo do
Leste europeu formam o consenso de que a ausência de democracia foi fator
importante para o fracasso desta experiência. Ao contrário do que defendia Karl
Marx, fundador do socialismo científico, os governos do chamado “socialismo
realmente existente” apostaram na força coerciva do Estado como mecanismo de
transição para uma sociedade pós-capitalista. Ignoraram que o comunismo só pode
triunfar quando a dimensão coerciva do Estado desaparece e as ferramentas de
consenso prevalecem.
Mesmo
na Guerra fria assistimos a tentativa de alguns partidos comunistas de
combinarem democracia e socialismo. Foi o caso do saudoso Partido Comunista
Italiano, o PCI, fundado por Antonio Gramsci, e que insistiu na tese da via
italiana ao socialismo. Não só utilizando-se da democracia, mas fazendo dela,
como proferiu o secretário geral do PCI, Enrico Berlinguer, terreno no qual
deveria se erguer uma legítima sociedade socialista. A guerra de posição, usada
pelos comunistas italianos, utilizou alianças pontuais com os democratas
cristãos, um compromisso de governo que seria um dia superado pela hegemonia
dos comunistas, inaugurando, desta forma, uma sociedade democrática e
socialista.
Bem
antes, no Chile, uma outra experiência de via democrática ao socialismo mostrava
força, com a chamada Unidade Popular Chilena, de Salvador Allende, que só não
foi mais longe por interferência direta dos EUA com um golpe militar.
O
Comunismo que está em crise nos dias atuais é exatamente o comunismo autoritário
e inspirado no velho marxismo-leninismo. O sonho de uma sociedade igualitária e
fraterna permanece vivo, e os comunistas, cada vez mais, vão se convencendo da
centralidade da democracia na preocupação das forças progressistas. Os que
ainda insistem na ditadura do proletariado, no centralismo democrático e em
revolucionarismos insurrecionais acabam sendo anacrônicos, saudosistas e sem
nada a contribuir para os tempos modernos, onde a principal conquista foi a
consolidação da democracia como valor universal e o Estado democrático de
direito como forma superior de organização social. A mais avançada que
conseguimos construir até hoje.