Por Adelson Vidal Alves
Ele influencia bilhões de pessoas em todo mundo, e ainda
hoje é um enigma para os historiadores. O homem que dividiu a história do
ocidente, literalmente ao meio, ainda é objeto de debates entre teólogos,
cientistas e pessoas comuns. Cada qual a sua maneira entrega devoção a Jesus, o
“Cristo” para alguns, o filho de Deus enviado em sacrifício pelos pecados da
humanidade. Aquele que ressuscitou ao terceiro dia e há de vir julgar vivos e
mortos. Para outros, porém, é um espírito evoluído, ou apenas um profeta entre
tantos.
Mas o Jesus que a ciência investiga talvez caísse para trás
caso voltasse a terra e se defrontasse com a doutrina mais difundida sobre sua
pessoa. Pesquisas recentes, na arqueologia, na historiografia e na filologia,
demonstram que Jesus jamais teve a pretensão de fundar uma Igreja. Sua
intenção, no máximo, seria a de reformar o judaísmo. Membro dos movimentos
milenaristas acreditava no fim dos tempos para breve, por isso não pensou numa
religião peregrina. O fim do mundo, para o Jesus histórico, seria questão de
dias.
Ele também não se entregou espontaneamente à morte, que foi
consequência de sua atuação política (por isso morreu na cruz, e não por
apedrejamento, pena guardada aos hereges). Incomodou mais Roma que a elite
judaica. Aliás, a cena da troca de Pilatos por Jesus não tem registro nos
costumes hebraicos. Provavelmente, ela foi obra dos evangelistas que, temendo perseguição
de Roma, preferiram um Pilatos “que lavava as mãos por um inocente” ao
sanguinário implacável que revela os documentos encontrados recentemente. Os Judeus foram então responsabilizados.
A fé de Jesus estava em perfeita conformidade com o
Judaismo, salvo por seu apreço aos mais pobres, colocados no centro de sua
mensagem. Não tinha a intenção de salvar o mundo com sua morte, tal consciência
é obra de interpretação das comunidades cristãs, que necessitavam de uma justificativa
para a morte humilhante do Messias que deveria salvar Israel. A ressurreição,
também, seria outra forma de apaziguar o fracasso de Jesus.
Sim, pois seu empenho em construir o Reino de Deus
fracassou. Poucos acolheram sua mensagem. A falta de documentos
extra-evangélicos, comprovam que sua caminhada entre nós foi percebida por uma
pequena minoria. O nosso Jesus era apenas um entre tantos outros que se
reivindicava Cristo.
O Jesus que nos revela a história é um homem de mensagem
simples, indignado com as injustiças de seu tempo, devoto a um Deus que prefere
os pobres e repudia a ganância. É o filho de um carpinteiro pobre de Nazaré,
que entrou em contato com a vida agrícola (suas parábolas são cheias de
alegorias rurais) e que pode ter tido algum acesso a literatura grega.
Sua
morte foi reinterpretada por seus seguidores, produziu versão mística e ganhou o mundo com
Paulo de Tarso, de quem procede a maior parte da doutrina protestante e
católica sobre Cristo. Todo o discurso de sua volta ao mundo para buscar a
Igreja não deve ter pertencido a sua consciência. Jesus morreu certo de que era
mais um a cumprir os mandamentos do Deus Hebreu, jamais imaginaria que bilhões
de pessoas ainda o aguardassem de volta e que seria ele o Juiz de todos os
nossos destinos. Ainda que atormente a mente de alguns, a simplicidade do Jesus
histórico, sem tantos atributos divinos, é bem mais atraente que aquele “Rei
dos reis”. O Jesus do presépio é bem mais encantador que o messias poderoso.
Por ele, até mesmo os ateus guardam seu apreço.
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