segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A fé do Jesus histórico

Por Adelson Vidal Alves



Ele influencia bilhões de pessoas em todo mundo, e ainda hoje é um enigma para os historiadores. O homem que dividiu a história do ocidente, literalmente ao meio, ainda é objeto de debates entre teólogos, cientistas e pessoas comuns. Cada qual a sua maneira entrega devoção a Jesus, o “Cristo” para alguns, o filho de Deus enviado em sacrifício pelos pecados da humanidade. Aquele que ressuscitou ao terceiro dia e há de vir julgar vivos e mortos. Para outros, porém, é um espírito evoluído, ou apenas um profeta entre tantos.

Mas o Jesus que a ciência investiga talvez caísse para trás caso voltasse a terra e se defrontasse com a doutrina mais difundida sobre sua pessoa. Pesquisas recentes, na arqueologia, na historiografia e na filologia, demonstram que Jesus jamais teve a pretensão de fundar uma Igreja. Sua intenção, no máximo, seria a de reformar o judaísmo. Membro dos movimentos milenaristas acreditava no fim dos tempos para breve, por isso não pensou numa religião peregrina. O fim do mundo, para o Jesus histórico, seria questão de dias.

Ele também não se entregou espontaneamente à morte, que foi consequência de sua atuação política (por isso morreu na cruz, e não por apedrejamento, pena guardada aos hereges). Incomodou mais Roma que a elite judaica. Aliás, a cena da troca de Pilatos por Jesus não tem registro nos costumes hebraicos. Provavelmente, ela foi obra dos evangelistas que, temendo perseguição de Roma, preferiram um Pilatos “que lavava as mãos por um inocente” ao sanguinário implacável que revela os documentos encontrados recentemente.  Os Judeus foram então responsabilizados.

A fé de Jesus estava em perfeita conformidade com o Judaismo, salvo por seu apreço aos mais pobres, colocados no centro de sua mensagem. Não tinha a intenção de salvar o mundo com sua morte, tal consciência é obra de interpretação das comunidades cristãs, que necessitavam de uma justificativa para a morte humilhante do Messias que deveria salvar Israel. A ressurreição, também, seria outra forma de apaziguar o fracasso de Jesus.

Sim, pois seu empenho em construir o Reino de Deus fracassou. Poucos acolheram sua mensagem. A falta de documentos extra-evangélicos, comprovam que sua caminhada entre nós foi percebida por uma pequena minoria. O nosso Jesus era apenas um entre tantos outros que se reivindicava Cristo.  

O Jesus que nos revela a história é um homem de mensagem simples, indignado com as injustiças de seu tempo, devoto a um Deus que prefere os pobres e repudia a ganância. É o filho de um carpinteiro pobre de Nazaré, que entrou em contato com a vida agrícola (suas parábolas são cheias de alegorias rurais) e que pode ter tido algum acesso a literatura grega. 

Sua morte foi reinterpretada por seus seguidores,  produziu versão mística e ganhou o mundo com Paulo de Tarso, de quem procede a maior parte da doutrina protestante e católica sobre Cristo. Todo o discurso de sua volta ao mundo para buscar a Igreja não deve ter pertencido a sua consciência. Jesus morreu certo de que era mais um a cumprir os mandamentos do Deus Hebreu, jamais imaginaria que bilhões de pessoas ainda o aguardassem de volta e que seria ele o Juiz de todos os nossos destinos. Ainda que atormente a mente de alguns, a simplicidade do Jesus histórico, sem tantos atributos divinos, é bem mais atraente que aquele “Rei dos reis”. O Jesus do presépio é bem mais encantador que o messias poderoso. Por ele, até mesmo os ateus guardam seu apreço.


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