Por Adelson Vidal Alves
A cidade de Volta Redonda sediou uma série de lutas das
classes subalternas. A mais importante delas foi a greve de 1988, que deixou
três vitimas fatais, assassinadas pelo exército. Por aqui, uma série de
organizações da sociedade civil protagonizaram e interferiram na construção do
imaginário de uma cidade antes operária e hoje cada vez mais prestadora de
serviços. O sindicalismo metalúrgico, classista e combativo, foi tão forte que
fez um operário, Juarez Antunes, ascender a prefeitura da cidade. Por uma
fatalidade, ficou menos de dois meses no poder.
Nunca pudemos ter, assim, um governo de esquerda. Também não
tivemos um de direita, nem mesmo Wanildo. Percorremos anos no chamado centro
político, que, com suas variáveis, modernizaram a cidade e resolveram a maior
parte dos problemas sociais que assolam muitas cidades do país. Malgrado a
dívida que os governos vem mantendo com os servidores públicos, Volta Redonda
apresenta índices sociais muito bons.
Mas e a esquerda? Como se comportou nestes tempos? Qual sua
realidade hoje?
É perceptível o encolhimento, tanto da esquerda política
como social, nos últimos 20 anos. A década de 1990, com a implantação das
chamadas reformas de Estado de FHC e também com a privatização da CSN, fez as
forças conservadoras ganharem terreno e a esquerda se fragmentar. Em alguns
casos, com a profissionalização de movimentos sociais, penou-se o transformismo.
Hoje, o sindicalismo metalúrgico se curvou à concepção
economicista de resultados, as associações de bairro perderam a autonomia e
hoje se aglomeram numa entidade autoritária, a FAM (presidida há anos por uma mesma
pessoa com cargo no governo). O movimento estudantil se trancou nos muros das
universidades e escolas, e o sindicalismo em geral oscila entre radicalismos estéreis
e paralisias.
Os partidos políticos, então, foram os mais atingidos pela
crise. O PT até que sobreviveu, mas com poucos quadros qualificados, tendo
emplacado um vice-prefeito sem apoio consensual do partido. O PCdoB, que
dirigiu anos o movimento estudantil e influenciou nas oposições sindicais, hoje
se resume a pequenos cargos no governo e com apenas um parlamentar na Câmara,
ainda sim, com poucas ligações ideológicas. Perdeu quase todas as entidades de
base.
Com crescimento, apenas o PSOL, que soube melhor aproveitar
os ventos rebeldes de Junho e aumentar suas fileiras na juventude, recrutando espíritos
inquietos e remanescentes das famosas Jornadas de 2013. Mantém, entretanto, modesto crescimento
eleitoral, e está longe de se firmar como um partido com vocação de governo.
PSB, PDT e PPS sobrevivem, com este último fazendo um
esforço de reestruturação, mas ainda sofrendo com a cultura despolitizada que
contamina o município.
É grave, assim, que não só as esquerdas estejam em crise.
Mas é notório e preocupante a ausência quase que total de uma esquerda
democrática, renovada com seu compromisso pela democracia e o Estado de
direito. A hegemonia de grupos conservadores, em disputa com esquerdas
cooptadas e radicalizadas, parece ser o resumo da luta ideológica na
cidade, que está esvaziada, atingida pela prevalência da pequena política.
Talvez fosse a hora da esquerda compreender a necessidade de se
autotransformar, abandonar sectarismos e dogmatismos, e ingressar de vez no
terreno democrático, como sendo ele o exclusivo lugar da luta pelas
transformações que historicamente ela defende.
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