domingo, 14 de dezembro de 2014

Esquerda em Volta Redonda, hoje

Por Adelson Vidal Alves


A cidade de Volta Redonda sediou uma série de lutas das classes subalternas. A mais importante delas foi a greve de 1988, que deixou três vitimas fatais, assassinadas pelo exército. Por aqui, uma série de organizações da sociedade civil protagonizaram e interferiram na construção do imaginário de uma cidade antes operária e hoje cada vez mais prestadora de serviços. O sindicalismo metalúrgico, classista e combativo, foi tão forte que fez um operário, Juarez Antunes, ascender a prefeitura da cidade. Por uma fatalidade, ficou menos de dois meses no poder.

Nunca pudemos ter, assim, um governo de esquerda. Também não tivemos um de direita, nem mesmo Wanildo. Percorremos anos no chamado centro político, que, com suas variáveis, modernizaram a cidade e resolveram a maior parte dos problemas sociais que assolam muitas cidades do país. Malgrado a dívida que os governos vem mantendo com os servidores públicos, Volta Redonda apresenta índices sociais muito bons.

Mas e a esquerda? Como se comportou nestes tempos? Qual sua realidade hoje?

É perceptível o encolhimento, tanto da esquerda política como social, nos últimos 20 anos. A década de 1990, com a implantação das chamadas reformas de Estado de FHC e também com a privatização da CSN, fez as forças conservadoras ganharem terreno e a esquerda se fragmentar. Em alguns casos, com a profissionalização de movimentos sociais, penou-se o transformismo.  

Hoje, o sindicalismo metalúrgico se curvou à concepção economicista de resultados, as associações de bairro perderam a autonomia e hoje se aglomeram numa entidade autoritária, a FAM (presidida há anos por uma mesma pessoa com cargo no governo). O movimento estudantil se trancou nos muros das universidades e escolas, e o sindicalismo em geral oscila entre radicalismos estéreis e paralisias.

Os partidos políticos, então, foram os mais atingidos pela crise. O PT até que sobreviveu, mas com poucos quadros qualificados, tendo emplacado um vice-prefeito sem apoio consensual do partido. O PCdoB, que dirigiu anos o movimento estudantil e influenciou nas oposições sindicais, hoje se resume a pequenos cargos no governo e com apenas um parlamentar na Câmara, ainda sim, com poucas ligações ideológicas. Perdeu quase todas as entidades de base.

Com crescimento, apenas o PSOL, que soube melhor aproveitar os ventos rebeldes de Junho e aumentar suas fileiras na juventude, recrutando espíritos inquietos e remanescentes das famosas Jornadas de 2013.  Mantém, entretanto, modesto crescimento eleitoral, e está longe de  se firmar como um partido com vocação de governo.

PSB, PDT e PPS sobrevivem, com este último fazendo um esforço de reestruturação, mas ainda sofrendo com a cultura despolitizada que contamina o município.

É grave, assim, que não só as esquerdas estejam em crise. Mas é notório e preocupante a ausência quase que total de uma esquerda democrática, renovada com seu compromisso pela democracia e o Estado de direito. A hegemonia de grupos conservadores, em disputa com esquerdas cooptadas e radicalizadas, parece ser o resumo da luta ideológica na cidade, que está esvaziada, atingida pela prevalência da pequena política. Talvez fosse a hora da esquerda compreender a necessidade de se autotransformar, abandonar sectarismos e dogmatismos, e ingressar de vez no terreno democrático, como sendo ele o exclusivo lugar da luta pelas transformações que historicamente ela defende. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário