terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Por uma Polícia sem farda

Por Adelson Vidal Alves



Se buscarmos as primeiras raízes da polícia militarizada no Brasil  chegaremos  a República velha, quando as oligarquias regionais criaram seus grupos armados. Mas a institucionalização da PM acontece em 1969, no auge do terror do regime militar. Hoje, 29 anos depois da redemocratização brasileira, a estrutura das polícias militares seguem as mesmas diretrizes daquele tempo terrível. O treinamento, a cultura e o regimento interno da corporação são de uma entidade montada para guerra, como se nossa vida social se resumisse a guerras. A PM não foi capaz de se atualizar para a vivência democrática e republicana, permanece sustentando a mesma estrutura de uma máquina bélica pronta para liquidar os inimigos.

A Polícia, dentro de uma democracia, deve ser o instrumento da segurança pública, de proteção aos cidadãos contra a criminalidade que oferece riscos a saúde social. Porém, na prática, há a permanência persistente de excessos, que fez o Conselho de direitos humanos da ONU sugerir ao Brasil o fim de sua PM.  Para se ter uma ideia, a chamada “tropa de elite”, o BOPE, em seu treinamento anuncia: “Homens de preto qual é sua missão? Invadir favelas e deixar corpo no chão” uma confissão de assassinato e criminalização da pobreza, dentro dos limites de um órgão de Estado. Uma verdadeira aberração.

A PEC 51, cujo entre os autores está um dos maiores especialistas em segurança pública, o antropólogo Luiz Eduardo Soares, visa abolir a atual PM, e cria possibilidades para a unificação das polícias, que poria fim às desigualdades e rivalidades que existem entre elas. Pois, é bom ressaltarmos, a desmilitarização da Polícia não significa por fim a ela, pelo contrário, busca formas de aperfeiçoamento da instituição. Pesquisas recentes mostram que policiais de baixa patente apoiam o fim da PM, sabem o beneficio que traria para si próprios, seja no trato com a sociedade seja na sua vida profissional. A postura hostil da população em relação a PM é direcionada as práticas autoritárias e violentas que nascem de seu perfil militarizado.


O fim da PM, pronta para guerra e cheia de inimigos e alvos fatais, é um ganho para a sociedade democrática. Não significa ceder ao crime, mas de formatar formas modernas de combate, sem que civis sejam sacrificados pela estratégia truculenta da militarização. O fim da PM seria um ganho para todos, principalmente para os policiais. Difícil entender por que seguimos nos negando a fazer este debate. 

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