terça-feira, 26 de agosto de 2014

Depois do IBOPE

Por Adelson Vidal Alves
A pesquisa do IBOPE para presidência da República, divulgada hoje, 26, traz números que mexem na campanha eleitoral. Dilma lidera as intenções de voto com 34% do eleitorado diante de 29% de Marina e 19% de Aécio, mas perderia no segundo turno para a ex-senadora. Desde já, a mensagem é clara: a principal adversária de Dilma neste momento é Marina, e não Aécio. Motivo pelo qual o PT terá que retirar o foco numa polarização com o PSDB para tentar, pelo menos, frear a crescimento da candidata do PSB.
O desafio é grande para Dilma, haja vista que o PT trabalhou nas últimas eleições campanhas comparativas, rivalizando as gestões de Lula e a de FHC, narrando um Brasil “novo” contra os “fantasmas do passado”. Neste ano o novo é Marina, ela que simboliza a nova política, as expectativas de mudanças que não façam rupturas radicais, até porque nasceu e cresceu politicamente do lado do PT. Trata-se de uma mudança segura que encanta todos os setores sociais. Difícil vai ser montar um discurso que seja capaz fazer o povo brasileiro temer Marina.
A candidata vem trabalhando bem sua base de apoio, profundamente heterogênea. Sinalizou para o mercado, o empresariado e reconciliou-se com o agronegócio. Ao mesmo tempo, usa uma linguagem direcionada aos pobres, uma mensagem de esperança com conteúdo transformador, porém seguro, nada que assuste as partes médias e a grande elite brasileira.
A esperança de Dilma concentra nos recursos superiores que detém a partir da máquina pública, e também do vantajoso tempo de televisão. As propagandas eleitorais e os debates também podem ajudar, e o fator Lula não deve ser desprezado. Fora isso, Dilma terá que apostar em algum escorregão na campanha da coligação liderada pelo PSB, ou, quem sabe, se retire um trunfo das mangas. Tudo muito improvável.
A eleição, obviamente, não está ganha, pelo contrário, está indefinida. A movimentação dos atores sociais vão definir nos próximos dias as possibilidades que trarão um provável segundo turno. Dilma leva desvantagem por não ter para onde crescer. Seus adversários parecem acumular votos anti-Dilma, isto é, dificilmente os eleitores de Aécio, Marina ou Pastor Everaldo irão migrar para a presidente. A solução seria os nulos e indecisos que, pelo que consta, estão indo em direção à Marina.
De certo, apenas, a consolidação da competitividade de Marina, surfando ainda no legado de Campos e na comoção de sua morte, mas com solidez para conseguir voos próprios, ainda que não deva deixar de lado a responsabilidade com o projeto renovador organizado em torno de Eduardo.
O que nos resta, neste momento, é esperar e acompanhar atento a cada passo até Outubro.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Marina é de direita?

Por Adelson Vidal Alves



A chegada de Marina Silva ao cenário eleitoral não só aumenta a imprevisibilidade no resultado, como, principalmente, traz novos elementos ideológicos para o debate. Há quem afirme com todas as letras que a ex-senadora seria a candidata da “direita”, representante do campo conservador, homofóbico e fundamentalista.

Ora, nenhuma análise honesta e imparcial pode acolher tais argumentos. Marina Silva, religiosa que é, tem o direito de manter firme suas crenças e convicções morais particulares. Trata-se de direito de crença e expressão, consagrados na Carta Magna e que configuram exigência mínima para um regime democrático.

Mas uma parte de nossa esquerda não consegue compreender sequer a importância de uma conquista democrática liberal, que separa público e privado. Marina pode ter suas posições sobre a União civil homossexual, acreditar que é pecado e que todos que cometem tal prática vão para o inferno. O que não pode é trazer para seu programa político algo que discrimine homossexuais por conta de sua fé. Isso Marina jamais fez. Nenhuma declaração pública sua mostra risco mínimo de que, no poder, vá violar a laicidade do Estado.

Pelo contrário, na vida pública foi exemplo, vem de uma trajetória de lutas sociais, ao lado dos seringueiros do Acre. Compôs o núcleo progressista do governo Lula, desarticulado pelo economicismo do ex-presidente, mais preocupado com os números do PIB que os do desmatamento. Teve a ousadia de propor um novo partido, de conteúdo novíssimo e com as ambições de atualizar a política para novas formas de funcionamento. Não a toa se situou no campo democrático, ao lado de partidos históricos como o PSB de Campos e o PPS de Roberto Freire, ambos porta vozes de uma esquerda alinhada aos valores democráticos, obediente a Constituição e defensora do Estado de direito.

Marina fala por este grupo, por esta coalizão. Tem suas ideias, mas representará esta esperança, fundada no consenso de um leque de partidos, todos unidos pela renovação democrática do poder político no Brasil.

Marina não é quadro da extrema-esquerda, por isso não assume os sectarismos de quem recusa- se a alianças estratégicas e necessárias dentro de um regime político plural e complexo. Se por acaso sua candidatura receber dinheiro do Itaú e da Natura, como apelam seus adversários, faz-se necessário abrir as contas dos mesmos, todos estruturados pelo recurso do que há de mais reacionário no capital. Nem mesmo Luciana Genro pode se gabar da tal independência de financiamento, quando candidata a perfeita de Porto Alegre, recebeu cerca de R$ 200.000, oo do grupo Gerdau.

Sendo assim, é de bom senso aceitarmos Marina como a candidata que melhor representa as forças democráticas moderadas. Que acolhem vozes de uma esquerda histórica, como os já citados PSB e PPS, mas que também farão representar setores moderados e até conservadores da sociedade. É esta aliança que representa o moderno nessas eleições, motivo pelo qual os atrasados, à esquerda e à direita, não poupam calúnias e fantasias para desgastar Marina. A se julgar pelo último Datafolha, podemos dizer que fracassaram.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O dilema do PSB

Por Adelson Vidal Alves


A morte trágica do presidenciável Eduardo Campos trará- depois do luto- um significativo dilema para seu partido: o PSB. A coligação dirigida pelos socialistas tem 10 dias para decidir se terá ou não candidato a Presidência da República.

Há duas possibilidades claras: a primeira é a desistência da candidatura, o que seria compreensível diante dos acontecimentos. Como partido político, terá, no entanto, que se decidir por apoio a uma das candidaturas colocadas. Nesta primeira hipótese, o apoio à reeleição de Dilma teria mais força, já que Campos foi a figura que garantiu a unidade dentro do partido, que se dividiu quanto a escolha de apoiar ou não a presidente. Articulador talentoso teve sucesso e manteve unido o PSB. Sem ele, será difícil conter possíveis dissidências, ou mesmo lançar algum outro presidenciável de menor expressão.

A segunda opção seria a manutenção da candidatura, desta vez com Marina Silva encabeçando. A ex-senadora, porém, não tem a articulação e a força que Eduardo tinha dentro do partido. Não se sabe até onde possa ser possível que ela seja a substituta do pernambucano. Caso vença esta opção, há significativas vantagens. Marina tem carisma, até maior que Eduardo, é uma figura testada nas urnas e com capital de 20 milhões de votos. Caso consiga capitanear a comoção do acontecimento, será uma candidata fortíssima. A princípio ameaçaria mais Aécio que Dilma, já que a presidente dificilmente não irá a segundo turno. Mas a petista teria dificuldades de vencer Marina num confronto direto entre ambas, tendo a última muito mais campo de alianças a se fazer no segundo turno.

A escolha está nas mãos da direção do PSB. A decisão que tomar influenciará imediatamente na eleição deste ano, que pode assumir contornos mais extensos ou simplesmente ser encurtada no primeiro turno eleitoral. No momento, impossível fazer qualquer previsão.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Volta Redonda cede ao golpismo

Adelson Vidal Alves



O Jornal Focoregional, edição desta segunda, 4 de agosto, noticiou uma pequena movimentação em Volta Redonda em torno da campanha pelo plebiscito que visa instaurar uma Constituinte exclusiva para a reforma política. A ideia é fazer chegar à Presidência da República um projeto que crie uma Assembleia Constituinte com fins de mudar as regras do jogo eleitoral. Uma ideia autoritária, absurda e anti-constitucional.

Constituintes são chamadas em momentos de reorganização institucional. No Brasil, foi chamada em 1891, a fim de eliminar os resíduos imperiais. Em 1934, a convocação foi conseqüência do movimento revolucionário de 1930. Em 1946, houve restauração democrática, rompendo com o Estado Novo, e por fim, em 1988, uma nova redemocratização, dessa vez interrompendo os anos de regime militar.

Percebam que em todos os casos havia uma profunda ruptura na ordem institucional. Não é o que está acontecendo neste momento. Nosso país não atravessa uma revolução, e não há sinais de que às ruas poderão suspender a atual ordem vigente. Neste aspecto, que sentido faz chamar uma Constituinte via plebiscito?

Os defensores dizem que o Congresso atual não tem moral para fazer uma reforma política que exige a democracia. Seria então necessáro convocar a “vontade popular” para fazer o que o parlamento não faz. Ora, não há em nossa Constituição legalidade para tal manobra bizarra. E a “vontade do povo” do momento não pode substituir o pacto constitucional feito  pela nação brasileira. 

Os movimentos em Volta redonda, organizados em torno da Cúria Diocesana e a Igreja Católica, cedem ao golpismo de esquerda, um câncer que assola a história das esquerdas no Brasil. Querem passar por cima do Congresso, fugir à normalidade institucional e operar por caminhos paralelos ao atual ordenamento institucional.

Coisa de quem ainda não acolheu a democracia política moderna como valor universal, terreno propício para que se faça avançar soluções cívicas para os conflitos modernos. Para o bem ou para o mal, é este  Congresso Nacional que tem a tarefa de fazer reformas . Ele, eleito por sufrágio universal, bem longe de ser instância burguesa, é conquista das classes de baixo, contra a resistência das classes dominantes.

Uma democracia para nossos tempos, em conexão com a complexidade do mundo contemporâneo, não pode funcionar somente pela participação direta do povo, dispensando mecanismos de representação. É o parlamento que garante a imunidade democrática contra corporatismos e assembleismos. Se a composição deste não é das melhores, é porque é fruto de imperfeições sistêmicas (que devem ser resolvidas sem alterar as regras do jogo) e da correlação de forças, em desvantagem para a esquerda. O que não se pode tolerar são tentativas de impor vontades de parte da sociedade ao conjunto da nação, driblando a normalidade do funcionamento institucional brasileiro. Neste momento, não é possível maquear o que está acontecendo: Plebiscito Constituinte é golpe.