segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Os desafios do novo Governo Neto

Por Adelson Vidal Alves



A vitória de Antônio Francisco Neto para a Prefeitura de Volta Redonda, com mais de 17 mil votos de diferença, enterra a tese de um esgotamento eminente do governo. Entretanto, não podemos ignorar que a acirrada polarização do segundo turno, ainda que sem um alto nível político nos debates, mostrou que a cidade exige caminhos de mudança, ainda que sob direção do atual prefeito. O Governo Neto terá tarefas emergentes a cumprir em seu novo mandato:


Diálogo com a sociedade e os movimentos sociais

O início de um novo governo, destinado a produzir transições na governança, passa, inevitavelmente, por um maior diálogo com a sociedade organizada. A composição de seu projeto político deve ter participação ativa dos movimentos populares, com respeito total a sua autonomia. 

O PCCS que o prefeito se comprometeu em fazer, deve ser pensado junto com a categoria e seu sindicato, de modo a se obter acordos quanto à necessária valorização do servidor público e o respeito pelo uso do orçamento municipal. É necessário também a abertura de nossos espaços de diálogo permanente (fóruns, conferências, encontros ampliados etc), assim como a criação de leis e projetos que valorizem a democracia direta. 

Recomposição de sua base social e política

A existência do segundo turno fez com que Neto abrisse seu leque de alianças. Observou-se a particpação ativa de setores progressistas e de esquerda neste final de processo eleitoral. Contudo, fica claro a entrada de setores conservadores no bloco de poder, que podem ocupar cargos dirigentes no novo governo. Estabelece-se, então, uma disputa hegemônica dentro da nova administração, com forças políticas buscando referências de governabilidade mais à direita e mais à esquerda. 

Os rumos do governo serão dados pela opção política do prefeito. Ele pode decidir-se em tomar caminhos mais conservadores, ou simplesmente, se apoiar em uma aliança com os setores mais progressistas e aprofundar mudanças.  Aparece neste momento a importante participação dos movimentos sociais, já que todo governo responde ao jogo de forças estabelecido na luta política da sociedade.

O prefeito terá a tarefa de garantir um governo de coalizão, heterogêneo e, possivelmente, híbrido. A correlação de forças interna e externa darão a cara final de sua governança. 

A Câmara de Vereadores

Em uma democracia como a nossa, os projetos do executivo não saem do gabinete do prefeito direto para a sociedade. É criada uma relação de poderes entre o Executivo e o Legislativo. A se julgar pela questão de partidos, Neto conseguiu maioria parlamentar. Mas, a princípio, ela aparece como frágil e indefinida. A oposição, ao contrário, se mostra com uma maior homogeneidade e certamente aplicará uma ação coordenada de caráter sistemático. 

Também aqui a presença dos movimentos sociais são importantes. O governo terá que ter habilidade no trato da articulação política com os vereadores, mas seria de grande importância que toda sua ação política tivesse apoio popular, de modo que sua relação com o parlamento não seja unilateral, mas que se estenda as organizações populares, que poderão exercer pressão em questões que envolvam conflitos de classe e interesses corporativos. 

A intelectualidade e os artistas

Um setor com o qual o governo já se comprometeu, e que deverá ter voz mais ativa na nova administração, é o setor da intelectualidade e do movimento cultural. Estes fazem parte de um grupo formador de opinião, importante na construção de um projeto político hegemônico. A composição do novo governo precisa estar sensível às demandas deste grupo e atento às suas opiniões, de modo que se consolide uma base forte de governabilidade no campo ideológico e cultural.

Tal aproximação, contudo, não deve assumir contornos de cooptação. Toda a relação deve ter traços dialéticos, o prefeito assumindo seu plano de governo e os que se inserem no campo da batalha das ideias, com suas reivindicações. A síntese desse diálogo pode dar a natureza política deste novo governo. 

Há de se dizer, e aí falo como marxista, que as ideias não estão soltas das bases materiais que uma sociedade produz em intenso relacionamento de cooperação. De modo que todo o diálogo intelectual deverá levar em conta a correlação de forças estabelecidas a partir desta base material, senão cairíamos em um idealismo vazio, em total desconexão com a realidade concreta da sociedade.

As mudanças virão mas não serão automáticas. Como nos alertava o velho Marx, a História se constrói pela ação direta dos homens, mas em condições nem sempre desejáveis. Manter o protagonismo em respeito a conjuntura estabelecida é um dever, tanto do governo, como dos sujeitos sociais estabelecidos na atualidade. 

Revisão textual: Regina Vilarinhos

Um comentário:

  1. Eu votei no Neto no segundo turno, mas confesso que fui tomado por uma tristeza profunda ao apertar o botão "confirmar" da urna eletrônica. Com o Neto está ruim sim, mas com o Zoinho poderia ser pior. O Neto é um bom administrador, pode fazer muito pela cidade, mas o que é vergonhoso é a super-faturação de TODOS os projetos que ele faz.

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