Por Adelson Vidal Alves
Um dos pilares da democracia
moderna que se reivindica é a chamada alternância do poder. A justificativa
central se concentra no impedimento de que uma pessoa ou grupo político se
perpetue no poder, impondo de forma excessivamente duradoura uma forma de
governabilidade autoritária. No Brasil, a rotatividade no poder é garantida por
uma lei que limita a reeleição de um candidato ao executivo a apenas uma vez.
Não impede, contudo, que o mesmo partido do então candidato siga governando por
tempo indeterminado.
É bom que se diga que a
alternância do poder é fruto de uma visão liberal de democracia. É justificável
porque a direita insista tanto neste discurso, já que alternando grupos no
poder, se impede que um projeto político se consolide, ou mesmo que se tenha
tempo para se praticar mudanças mais estruturais na sociedade. Não precisamos
ir longe para entender a fúria da direita quando projetos alternativos e
populares avançam no tempo e no poder. Hugo Chavez sofre forte pressão do
imperialismo e da burguesia de seu país, sendo chamado de ditador, quando na
verdade venceu todas as eleições por sufrágio universal, saindo vitorioso
também em dois referendos revogatórios. Ainda sim é chamado de ditador.
O ex-presidente de Honduras,
Manuel Zelaya, sofreu um golpe de Estado ao propor democraticamente um
referendo que estendesse seu mandato. Lá também as oligarquias justificaram a
alternância no poder para seqüestrar o então presidente, e cercar a embaixada
brasileira quando esta deu asilo político a Zelaya. Trocando em miúdos: o
discurso da alternância do poder também foi base para se estabelecer uma
ruptura institucional no país.
É preciso ressaltar que o ponto
fundador da democracia é a vontade popular. Desde os contratualistas liberais
como Rousseau, até representantes do marxismo democrático como Gramsci,
estabelece-se um consenso de que a legitimidade do poder se concretiza com a
consolidação de consenso em torno de um projeto político. Rousseau chamou de
“vontade geral” e Gramsci de “Vontade popular coletiva”. O que garante o
sucesso democrático, não é a simples troca constante de governantes e partidos,
mas sim a disputa legítima de projetos de poder, que Gramsci chamou de luta
pela hegemonia”.
Bem, faço esta introdução para
entrar no debate que circula as redes sociais e esferas públicas nas eleições
do segundo turno da cidade. Há quem vote no candidato da oposição, o
republicano Zoinho, com a justificativa superficial de que é preciso trocar o
grupo político. Chama-se o atual prefeito de ditador, quando este chegou ao
governo pelo voto popular.
Assusta-me, sobretudo, que a
alternância do poder seja invocada aqui de forma ainda mais desqualificada. Não
se estabelece um debate entre as características das duas candidaturas. Não se
analisa o perfil de Zoinho, não se busca seu histórico político, suas alianças
de classes, os apoios partidários que recebe, o financiamento que recebe do
poder econômico, seus compromissos com o grande capital. O discurso se atenta
para o simplista “é preciso mudar”.
Assim como golpes foram
estabelecidos em nome da rotatividade do poder, por aqui se tenta construir a
idéia que a democracia exige mudanças no poder, mesmo quando estas se dêem em
prejuízo de uma cidade inteira.
Que esse discurso parta dos
grupos fisiológicos da oposição, isto é natural. Mas surpreende quando
indivíduos e segmentos ligados ao socialismo e a esquerda, adotam este
argumento.
Há quem diga o absurdo de que é
preciso retirar Neto para se fazer oposição a outro, simplesmente porque é
preciso mudar. É bom sabermos que nem na literatura democrática, nem no
marxismo, há parâmetros para sustentar tal tese.
Vai um apelo para que nos últimos
dias desta campanha, que pelo menos se abra um debate mais qualificado, e que
se avalie de fato o significado da vitória de ambos os candidatos. O sucesso
democrático depende do perfil político que se estabelecerá no poder no
município, e não em um simples
troca-troca.
Esse é o "debate mais qualificado" que precisamos. Parabéns pelo ponta-pé inicial, Adelson.
ResponderExcluirPrecisamos manter a memória afiada, principalmente para lembrarmos o que foi feito nos governos Wanildo de Carvalho e Paulo Baltazar. "moving forward not backward"
Abraço.