segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

CONHECENDO GRAMSCI: TEXTO 2

Por Adelson Vidal Alves

A recepção de Gramsci no Brasil e as edições brasileiras



As primeiras citações de Gramsci no Brasil remontam os anos finais da década de 1930 e inicio de 40. São pouquíssimas citações, se resumindo a enaltecer seu martírio antifascista, e sem nenhuma colocação em respeito a sua obra política.

Na década de 60, Gramsci aparece no Brasil se aproveitando de uma conjuntura de ascensão das lutas sociais e de uma crise internacional comunista, devido as denuncias dos crimes stalinistas, expostos de forma abrangente no XX congresso do PCUS em 1956. O interesse por uma literatura marxista heterodoxa, bem diferente da vulgata soviética, começa a aparecer entre os brasileiros, ainda que restrito aos círculos universitários. Nosso autor, contudo, é visto restritamente como um filósofo e pensador da cultura, tendo sua principal contribuição teórica, a politica, completamente deixada de lado. Não é a toa que ele sempre aparece ao lado de autores como Gyorg Lukács de História e consciência e Classe e Jean Paul Sartre de Critica a razão dialética.

As primeiras movimentações da publicação de uma edição brasileira de Gramsci acontecem já nos anos de ditadura militar, e se concretizam entre 1966 e 1968. A iniciativa partiu da editora Civilização Brasileira, que depois de trocar correspondências com Franco Ferri, diretor do Instituto Gramsci e detentor dos direitos de publicação na época, concluiu a tradução das Cartas do cárcere e de Concepção dialética da história, vindo mais tarde a finalizar com Os intelectuais e a organização da cultura e os textos políticos, como os que tratam de Maquiavel e as notas sobre o II Risorgimento.  Enior Silveira, editor da CB, coordenou todo o trabalho, e teve assim o mérito de abrir o pensamento social brasileiro não só para Gramsci, mas também Theodor Adorno, Lucien Goldmann, Walter Benjamin e Herbert Marcuse, todos teóricos em completa oposição ao marxismo esquemático da academia de ciências sociais da URSS.

Ainda que importante como introdução de Gramsci em nosso país, o fracasso editorial deste primeiro ciclo gramsciano brasileiro foi visível. Mal conseguiu chegar a terceira edição, enquanto milhares de exemplares se empoeiravam em sebos Brasil afora. O desinteresse por Gramsci, em parte se explica pela radicalização politica da esquerda nos anos de 1968, quando o regime militar assina o AI5, momento em que as liberdades mais elementares são cerceadas. A grande maioria das organizações de esquerda preferiu partir para a luta armada, inspiradas no castrismo, maoísmo e trotskismo. A visão de um país semi-colonial e que precisava de uma revolução democrático-burguesa, ainda inspirava quadros do PCB e da intelectualidade da extrema-esquerda, que preferiam Althusser e Marcuse a Gramsci.

Após a derrota da “esquerda armada” brasileira, Gramsci volta ao cenário brasileiro, desta vez favorecido não só pela conjuntura interna, mas também pela externa, no qual crescia uma tendência de cunho marxista que ficou conhecida como “Eurocomunismo”, que de forma resumida defendia a chegada ao socialismo pela via democrática. É fato importante a declaração do então secretario geral do PCI, Enrico Berlinguer em 1977,  segundo o qual a “democracia seria um valor universal” e por isso, elemento indispensável na sociedade socialista.

A questão democrática, assim como o aparecimento da “edição crítica” dos cadernos do cárcere (ver texto 1) empolgou a própria Civilização Brasileira a uma nova publicação da obra do pensador sardo em meados dos anos 70. A nova edição brasileira se baseou na já citada “edição critica” de Valentino Gerratana e separando claramente os “cadernos miscelâneos” dos “cadernos especiais”,  estes últimos que seriam os articuladores centrais da nova tradução. Os editores desta nova empreitada seriam intelectuais como Carlos Nelson Coutinho, Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques.

É interessante que a edição brasileira não desprezou o trabalho da primeira produção italiana dos cadernos, vindo a aproveitar a separação temática, como forma de facilitar aos leitores iniciantes de Gramsci. Devemos ressaltar que a cronologia dos escritos está presente nos seis volumes publicados, da forma que não só os iniciados na obra de Gramsci possam começar sua leitura, assim como, os mais exigentes poderão desenvolver pesquisas aprofundadas a partir de nossa edição nacional.

No terceiro e último artigo, vamos conhecer os conceitos politicos de Gramsci e sua aplicação na realidade brasileira.

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