segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

As lições do Jesus histórico

Por Adelson Vidal Alves



Como todos sabem, sou agnóstico (tenho dúvidas sobre Deus ainda que não negue categoricamente sua existência), sendo assim, não me interesso pelo o Jesus “Cristo”, o divino construído teologicamente durante os séculos, mas sempre fui curioso quanto à vida histórica do homem no qual seu nome direciona a vida de milhões de pessoas em todo mundo. Qual foi sua mensagem, seu estilo de vida, sua pregação e seus sonhos.

Neste aspecto, ainda que com pouquíssimas fontes fora dos evangelhos, os historiadores começam a estabelecer consenso sobre o Jesus da Palestina do século I. Para isso, os pesquisadores tentam separar o que da bíblia podemos afirmar como sendo histórico, ou com alguma marca histórica, e o que é produção de fé. Faz-se isso confrontando os textos com fontes arqueológicas e filológicas que vão se encontrando nos últimos anos.

De cara, descartamos o Cristo que prevalece entre as igrejas eletrônicas, aquelas da teologia da prosperidade. Ele nasceu pobre, em uma pequena região de 400 habitantes chamada Nazaré, não recebeu presentes no seu nascimento, veio de uma família com poucos recursos, seguiu o trabalho rude de seu pai, como operário ou camponês (talvez as duas coisas), foi judeu e jamais pretendeu fundar uma nova religião, morreu por uma sentença política devido a sua práxis, e ao invés de aceitar sua morte como expiação pelos pecados da humanidade, fugiu dela, e tentou evitá-la ao máximo.

Em sua mensagem, o Jesus histórico toma lado politicamente: o dos pobres e marginalizados. Os marginalizados inclui as mulheres, leprosos (vistos muito mais que doentes, mas como amaldiçoados) escravos, e provavelmente gays. Jamais enxergou em Deus a obrigação da prosperidade para com seus fiéis, ao contrário, direcionou críticas fortes aos ricos, por saber que a riqueza deles produz a pobreza de tantos. Contra isso, colocou os pobres no topo das bem aventuranças.

Jesus era um milenarista, isto é, acreditava no fim iminente do mundo, na construção do Reino de Deus na terra, com o triunfo da justiça contra o modelo de dominação romana e das elites judaicas. Por isso pregou a solidariedade, o amor ao próximo, sobretudo aos menores, combateu a inveja, a avareza e a soberba, o salvo, segundo Jesus, deveria ser humilde.


Este Jesus, despido das mágicas, milagres e feitos grandiosos, é lembrado pouco, mesmo nas festas que carregam seu nome. Mas ele, a exemplo de tantos outros homens que andaram por esse solo, trouxe uma mensagem libertadora. Se os cristãos a seguissem, certamente teríamos um mundo melhor. 

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