Como todos sabem, sou agnóstico
(tenho dúvidas sobre Deus ainda que não negue categoricamente sua existência),
sendo assim, não me interesso pelo o Jesus “Cristo”, o divino construído teologicamente
durante os séculos, mas sempre fui curioso quanto à vida histórica do homem no
qual seu nome direciona a vida de milhões de pessoas em todo mundo. Qual foi
sua mensagem, seu estilo de vida, sua pregação e seus sonhos.
Neste aspecto, ainda que com
pouquíssimas fontes fora dos evangelhos, os historiadores começam a estabelecer
consenso sobre o Jesus da Palestina do século I. Para isso, os pesquisadores tentam
separar o que da bíblia podemos afirmar como sendo histórico, ou com alguma
marca histórica, e o que é produção de fé. Faz-se isso confrontando os textos
com fontes arqueológicas e filológicas que vão se encontrando nos últimos anos.
De cara, descartamos o Cristo
que prevalece entre as igrejas eletrônicas, aquelas da teologia da prosperidade.
Ele nasceu pobre, em uma pequena região de 400 habitantes chamada Nazaré, não
recebeu presentes no seu nascimento, veio de uma família com poucos recursos,
seguiu o trabalho rude de seu pai, como operário ou camponês (talvez as duas
coisas), foi judeu e jamais pretendeu fundar uma nova religião, morreu por uma
sentença política devido a sua práxis, e ao invés de aceitar sua morte como
expiação pelos pecados da humanidade, fugiu dela, e tentou evitá-la ao máximo.
Em sua mensagem, o Jesus
histórico toma lado politicamente: o dos pobres e marginalizados. Os
marginalizados inclui as mulheres, leprosos (vistos muito mais que doentes, mas
como amaldiçoados) escravos, e provavelmente gays. Jamais enxergou em Deus a
obrigação da prosperidade para com seus fiéis, ao contrário, direcionou
críticas fortes aos ricos, por saber que a riqueza deles produz a pobreza de
tantos. Contra isso, colocou os pobres no topo das bem aventuranças.
Jesus era um milenarista, isto
é, acreditava no fim iminente do mundo, na construção do Reino de Deus na
terra, com o triunfo da justiça contra o modelo de dominação romana e das
elites judaicas. Por isso pregou a solidariedade, o amor ao próximo, sobretudo
aos menores, combateu a inveja, a avareza e a soberba, o salvo, segundo Jesus,
deveria ser humilde.
Este Jesus, despido das
mágicas, milagres e feitos grandiosos, é lembrado pouco, mesmo nas festas que
carregam seu nome. Mas ele, a exemplo de tantos outros homens que andaram por
esse solo, trouxe uma mensagem libertadora. Se os cristãos a seguissem, certamente
teríamos um mundo melhor.
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