quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Não me lembrem de Deus, sou agnóstico

Por Adelson Vidal Alves



Nos tempos mais antigos a religião fazia todo o sentido. Como explicar a complexidade do universo, o surgimento da inteligência, o equilíbrio que relativamente preserva a existência da vida planetária? As explicações mágicas acabavam tendo supremacia, por isso o advento dos mitos, como o de Adão e Eva, o mais próximo entre nós ocidentais. Vale lembrar que mitos não são mentiras construídas por charlatães malvados, mas narrativas próprias de um tempo, que explicam coisas e acontecimentos.

Nos nossos dias, com o avanço fantástico da ciência, muito do que a religião explicava perdeu sentido. Descobrimos que não somos o centro do universo, que no Planeta Terra somos os últimos dos inquilinos, e que se algum processo de extinção vingar, somos frágeis criaturas nas mãos da seleção natural. Então, por que a religião ainda sobrevive? Por que a grande maioria das pessoas ainda toma decisões importantes da vida baseadas exclusivamente na fé?

Uma explicação rápida e marxista diria que o capitalismo produz as condições materiais para a consciência religiosa alienada, e que o homem recusa seu protagonismo vital para deitar suas esperanças em um ser estranho a si próprio. Bastaria um a revolução social que colocasse a baixo a estrutura fabricante de alienação para que Deus desapareça. Mas tal explicação, levada ao extremo, ignora a dimensão libertadora da religião, e que ela não é apenas um lugar de pessoas dóceis e obedientes, mas também o incentivo para muitos lutarem por libertação. Os exemplos estão por ai: a revolução sandinista de 1979, feita por bispos com armas na mão. Os dominicanos brasileiros, que pagaram com a vida a resistência à ditadura. Dom Helder Câmara, Dom Waldir Calheiros, Oscar Romero, Pastor Milton Schwantes, e tantos outros são provas vivas do lado libertador da fé. Sendo assim, o fenômeno religioso é muito mais complexo que imaginamos.

Mas há aqueles que negam a fé. E eles crescem cada vez mais, segundo pesquisas. Só na China, 47% das pessoas dizem não ter fé ou religião. É verdade que a existência de Deus já não traz tanto motivo para os debates. No Brasil a grande maioria é religiosa, e como se sabe, os crentes não estão dispostos a colocar sua fé a prova da razão ou da ciência. Basta crer. O ateu, também, nega veementemente Deus, e nem mesmo se um anjo aparecesse com trombetas e o levasse a um passeio pelas belezas celestiais ele estaria disposto a rever sua opinião. Afinal, poderia ser uma simples alucinação.
No entanto, entre ateus e crentes, há uma categoria, digamos intermediária: os agnósticos. A terminologia significa, etimologicamente “não conhecimento”, e na sua filosofia está a afirmação de que mesmo que Deus exista, ele não pode ser testado pela razão e pela ciência. Então, seria perda de tempo pensar na sua existência, pois ela não pode ser negada ou afirmada, a não ser pela fé, dos dois lados.

O ateísmo militante repete o fundamentalismo religioso, e tenta apresentar ao público a impossibilidade de Deus. De fato, o mundo físico não apresenta nenhuma evidência de Deus, pelo contrário, cada vez mais vemos sinais de não planejamento no universo, o que fala contra qualquer proposta de um ser supremo, inteligente e governante. Mas como dizia Carl Sagan “a ausência de evidência não é evidência da ausência”. Isto é, pode ser que no fim da vida, mesmo diante desta improvável possibilidade de existência divina, sejamos surpreendidos com alguma energia cósmica, incapaz de ser captada pela realidade empírica. Os agnósticos, assim, são aqueles que estarão um pouco mais prontos que os ateus caso esta surpresa aconteça.


No final, tudo é uma aposta. O ateu pode quebrar a cara ao chocar-se com a luz divina no fim da vida, e o crente pode ter dedicado uma vida toda, rejeitando prazeres e sacrificando escolhas, por nada. Creio que o agnóstico, ao rejeitar certezas, faz o melhor caminho. Simplesmente resolveu caminhar sem pensar em questões que não pode resolver aqui. Afinal, não custa nada esperar pra saber a verdade. De preferência, esperar bastante. 

Um comentário:

  1. Ultimamente venho refletindo do quanto essa briga entre a existencia ou não de Deus é uma grande bobagem!
    Convivo com cristãos, ateus, umbandistas,...e entre todos( faço parte também!) há os comprometidos com a melhoria da qualidade de vida do próximo, com a sustentabilidade, com as causas sociais e aqueles que só vêem o próprio umbigo, os benefícios próprios!

    Moramos todos na mesma casa : TERRA!
    Se não aprendermos a nos respeitar e deixar o outro ser feliz da forma que escolheu viver, vamos parar onde?
    Sou cristã, católica, feliz por minha escolha! A fé me dá forças, me equilibra! Nada nem ninguém podem me tirar isso! Não são as circunstâncias que me mudam.

    Mas o Jesus que acredito, ama, respeita e não obriga ninguém a nada, muito menos a segui-lo. " nem tudo é conveniente"!
    Vamos ,independente da crença ou não em um ser superior ,sermos humanos verdadeiramente dignos de humanidade!

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