segunda-feira, 11 de maio de 2015

Deus está quase morto

Por Adelson Vidal Alves

Há um visível desinteresse por Deus em nossos dias. Ele já não é aquele que orienta moralmente as pessoas no dia-dia, no máximo, é àquele a quem recorremos nos momentos de desespero. Temos pressa, queremos liberdade, não temos tempo para regras rígidas e nem nos prendemos em proibicionismos chatos. De fato, o velho barbudo celestial está fora de moda.

É verdade que a ciência trouxe explicações que, de certa forma, dispensam o papel de um criador.  Também é verdade que recorremos muito mais a razão do que a fé na hora de tomar alguma decisão. No entanto, não é a explicação científica que mais esvazia Deus no mundo contemporâneo, mas sim a religião.

Quando Nietzsche decretou a morte de Deus, não estava pregando um ateísmo militante, há quem diga que ele tinha lá sua espiritualidade. Quem matava Deus, na visão do filósofo, era a versão divina ocidental, sobretudo, o que vinha do cristianismo, que incentivava a esperança no além como forma de enfrentar os problemas mundanos, abandonando o aqui e agora.

Hoje, mesmo havendo religiosos comprometidos com questões nobres da vida, o modelo de religião que predomina oscila entre o fundamentalismo e a pirotecnia espiritual. O primeiro é o comportamento daqueles que assumem seu Deus como o único, e sua fé como verdade absoluta. De lá nascem as bancadas evangélicas, que prejudicam gays, atrasam debates importantes como o aborto e são barreiras para o progresso cientifico. Nos estados mais graves nascem grupos como o Estado Islâmico. Já a pirotecnia espiritual, é fruto de uma fé festiva, espetaculosa e irracional. É o neopentecostalismo protestante e o movimento carismático católico. São os grupos que vendem um Deus pra cada consumidor. Que prometem prosperidades econômicas, curas de doenças, casamentos reatados e os mais diversos milagres. Em geral, estão ligados a práticas de estelionato, com seus líderes enriquecendo e os fiéis empobrecendo.

Essas apresentações da divindade minam a fé, trazem desilusões, empobrecem a leitura do divino, e afasta as pessoas da religião.


Fica claro que a religiosidade só sobrevive com força nos setores menos escolarizados e na parte debaixo da pirâmide social. Pessoas mais escolarizadas e críticas tendem a olhar a religião com desconfiança, e este parece ser um processo irreversível. Deus mantém-se vivo entre as instituições que o apresentam no mais velho e conservador modo de ser. Aquele Deus que animou a muitos na vivência social progressista perde cada vez mais espaço, e este que nos vendem hoje é raso intelectualmente, tirano politicamente e insensível moralmente. Faz todo sentido matá-lo de uma vez por todas.  

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