Por Adelson Vidal Alves
Há um visível desinteresse por
Deus em nossos dias. Ele já não é aquele que orienta moralmente as pessoas no
dia-dia, no máximo, é àquele a quem recorremos nos momentos de desespero. Temos
pressa, queremos liberdade, não temos tempo para regras rígidas e nem nos
prendemos em proibicionismos chatos. De fato, o velho barbudo celestial está
fora de moda.
É verdade que a ciência trouxe
explicações que, de certa forma, dispensam o papel de um criador. Também é verdade que recorremos muito mais a
razão do que a fé na hora de tomar alguma decisão. No entanto, não é a
explicação científica que mais esvazia Deus no mundo contemporâneo, mas sim a
religião.
Quando Nietzsche decretou a
morte de Deus, não estava pregando um ateísmo militante, há quem diga que ele
tinha lá sua espiritualidade. Quem matava Deus, na visão do filósofo, era a
versão divina ocidental, sobretudo, o que vinha do cristianismo, que incentivava
a esperança no além como forma de enfrentar os problemas mundanos, abandonando
o aqui e agora.
Hoje, mesmo havendo religiosos
comprometidos com questões nobres da vida, o modelo de religião que predomina
oscila entre o fundamentalismo e a pirotecnia espiritual. O primeiro é o
comportamento daqueles que assumem seu Deus como o único, e sua fé como verdade
absoluta. De lá nascem as bancadas evangélicas, que prejudicam gays, atrasam
debates importantes como o aborto e são barreiras para o progresso cientifico.
Nos estados mais graves nascem grupos como o Estado Islâmico. Já a pirotecnia
espiritual, é fruto de uma fé festiva, espetaculosa e irracional. É o neopentecostalismo
protestante e o movimento carismático católico. São os grupos que vendem um
Deus pra cada consumidor. Que prometem prosperidades econômicas, curas de
doenças, casamentos reatados e os mais diversos milagres. Em geral, estão
ligados a práticas de estelionato, com seus líderes enriquecendo e os fiéis
empobrecendo.
Essas apresentações da
divindade minam a fé, trazem desilusões, empobrecem a leitura do divino, e
afasta as pessoas da religião.
Fica claro que a religiosidade só
sobrevive com força nos setores menos escolarizados e na parte debaixo da
pirâmide social. Pessoas mais escolarizadas e críticas tendem a olhar a
religião com desconfiança, e este parece ser um processo irreversível. Deus
mantém-se vivo entre as instituições que o apresentam no mais velho e
conservador modo de ser. Aquele Deus que animou a muitos na vivência social
progressista perde cada vez mais espaço, e este que nos vendem hoje é raso
intelectualmente, tirano politicamente e insensível moralmente. Faz todo
sentido matá-lo de uma vez por todas.
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