Por Adelson Vidal Alves
No inicio de tudo os homens possuíam 4 pernas, 4 olhos, 2
bocas e 2 cabeças. Sua arrogância e sentimento de autossuficiência eram tão
grandes que os deuses resolveram corta-los ao meio. Desde então, sua sina seria
buscar incessantemente por sua outra metade. Esta história é narrada pelo
filósofo grego Aristófanes (447 a.C. — 385 a.C), e serve como uma excelente
metáfora para a busca desesperada dos homens de hoje atrás de um grande amor.
Nos dias atuais, encontrar um grande amor e iniciar um
relacionamento são razões para traumas e sérios problemas existenciais. Nossa
era é a era do fracasso dos relacionamentos, dos amores incompreendidos, da
mercantilização dos sentimentos. Há mais divórcios que casamentos.
Mas qual a razão de nossos fracassos em relação a nossa
principal referência de felicidade? Por que o amor foi tão banalizado? Por que
ele faz mais mal do que bem aos que ousam em investir nele.
O que sabemos é que amar virou sinônimo de posse, motivo
pelo qual os crimes passionais são tão comuns. O outro vira propriedade, e como
posse, ninguém gosta de perdê-la. Não é ausência da pessoa que mais faz os
amantes sofrerem, mas sim o sentimento de que a sua ex-propriedade em breve
encontrará um novo dono. Em nossos dias, também, o próprio ser humano se tornam
coisa, verdadeiras mercadorias. Não há expectativa de futuro, vale gozar o
dia-dia, o momento. Nada de promessas de amor eterno, pois amar está relacionado
a sua satisfação própria, no momento em que tal satisfação desaparece, não há
nada que sustente este relacionamento.
Ingressar numa relação a dois, com a ilusão de proteção,
cuidado e segurança, é um péssimo investimento. Os riscos de sofrimento são
muito maiores que o de bem estar. Namorar, casar, se relacionar guardam mais
momentos de atrito do que de harmonia. Sua chance de frequentar um psiquiatra
aumenta em milhões.
A solidão não é o mal do século, como certa vez disse um
poeta do Rock, ela é oportunidade. Chance ímpar de se viver plenamente a
liberdade, de conhecer-se a si mesmo, vivendo apenas com sua própria metade. A
falta do telefonema em tempos difíceis, da carícia nos momentos de tristeza são
plenamente compensadas pela leveza da vida sem os problemas relacionais. Você é
o único a tomar as decisões, tem a segurança de que os sofrimentos da paixão
lhes serão poupados, já que temos a certeza que a longevidade dos
relacionamentos é guardada para uma porção pequena de escolhidos. Em geral, todos
irão sofrer com a perda do amado, todos iremos romper ou esfriar o que um dia
foi o amor original. Enfim, em nossos tempos, a estabilidade não está no lar ou
na família, mas no egoísmo de nossa solidão, o melhor dos mundos para quem não
quer chatear-se.
Nenhum comentário:
Postar um comentário