domingo, 22 de março de 2015

O prejuízo de amar

Por Adelson Vidal Alves



No inicio de tudo os homens possuíam 4 pernas, 4 olhos, 2 bocas e 2 cabeças. Sua arrogância e sentimento de autossuficiência eram tão grandes que os deuses resolveram corta-los ao meio. Desde então, sua sina seria buscar incessantemente por sua outra metade. Esta história é narrada pelo filósofo grego Aristófanes  (447 a.C. — 385 a.C), e serve como uma excelente metáfora para a busca desesperada dos homens de hoje atrás de um grande amor.

Nos dias atuais, encontrar um grande amor e iniciar um relacionamento são razões para traumas e sérios problemas existenciais. Nossa era é a era do fracasso dos relacionamentos, dos amores incompreendidos, da mercantilização dos sentimentos. Há mais divórcios que casamentos.

Mas qual a razão de nossos fracassos em relação a nossa principal referência de felicidade? Por que o amor foi tão banalizado? Por que ele faz mais mal do que bem aos que ousam em investir nele.

O que sabemos é que amar virou sinônimo de posse, motivo pelo qual os crimes passionais são tão comuns. O outro vira propriedade, e como posse, ninguém gosta de perdê-la. Não é ausência da pessoa que mais faz os amantes sofrerem, mas sim o sentimento de que a sua ex-propriedade em breve encontrará um novo dono. Em nossos dias, também, o próprio ser humano se tornam coisa, verdadeiras mercadorias. Não há expectativa de futuro, vale gozar o dia-dia, o momento. Nada de promessas de amor eterno, pois amar está relacionado a sua satisfação própria, no momento em que tal satisfação desaparece, não há nada que sustente este relacionamento.

Ingressar numa relação a dois, com a ilusão de proteção, cuidado e segurança, é um péssimo investimento. Os riscos de sofrimento são muito maiores que o de bem estar. Namorar, casar, se relacionar guardam mais momentos de atrito do que de harmonia. Sua chance de frequentar um psiquiatra aumenta em milhões.

A solidão não é o mal do século, como certa vez disse um poeta do Rock, ela é oportunidade. Chance ímpar de se viver plenamente a liberdade, de conhecer-se a si mesmo, vivendo apenas com sua própria metade. A falta do telefonema em tempos difíceis, da carícia nos momentos de tristeza são plenamente compensadas pela leveza da vida sem os problemas relacionais. Você é o único a tomar as decisões, tem a segurança de que os sofrimentos da paixão lhes serão poupados, já que temos a certeza que a longevidade dos relacionamentos é guardada para uma porção pequena de escolhidos. Em geral, todos irão sofrer com a perda do amado, todos iremos romper ou esfriar o que um dia foi o amor original. Enfim, em nossos tempos, a estabilidade não está no lar ou na família, mas no egoísmo de nossa solidão, o melhor dos mundos para quem não quer chatear-se.

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