Por Adelson Vidal Alves
O segundo turno das eleições presidenciais de 2014 trouxe,
para um determinado a público, a ideia de que o que estava em jogo era um duelo
particular entre direita e esquerda. E como no Brasil ser de direita significa
o mal, a defesa dos ricos contra os pobres e a encarnação da corrupção, o PT
conseguiu trazer para si o apoio de setores progressistas e socialmente mais
vulneráveis. O discurso foi reeditado dos outros três pleitos passados.
Logo depois de vencer
a eleição, porém, Dilma foi buscar as bases de seu governo nos setores conservadores.
Nomeou para seus ministérios: Joaquim Levy (Fazenda), Armando Monteiro (Desenvolvimento),
Kátia Abreu (Agricultura), Gilberto Kassab (Cidades), Cid Gomes (Educação),
Eduardo Braga (Minas e Energia), George Hilton (Esportes). Pessoas de convicções distantes do que se esperava
de um “governo novo com ideais novas”. Nem o mais pessimista dos governistas
imaginaria uma guinada à direita tão radical.
Mesmo
assim, não podemos dizer que houve aqui uma traição de princípios. Era visível a
inclinação de Dilma neste sentido. Ela só materializou seus acordos eleitorais.
Ao contrário do PSDB, que em 2014 encorpou-se com grupos moderados e
progressistas, bem diferente do que aconteceu nas candidaturas de Serra e Alckmin, o PT foi
à direita, dando a linha de frente da campanha, e agora do governo, a grupos
fisiológicos e até mesmo reacionários.
Aécio liderou uma coalizão que isolou a
extrema-direita, dando espaço para o avanço de forças políticas de centro e até
de esquerda. A direita propriamente dita era minoria. Talvez os ministros, hoje
nomeados, pudessem agradar parte do eleitorado tucano, mas a coalizão de
sustentação do tucano iria, certamente, aprontar um terreno que favoreceria um
governo de centro, democrático e com espaço para a esquerda democrática e
movimentos modernos da sociedade civil.
Com
Dilma, vemos o triunfo de parte da direita, que governa apoiada em símbolos que
vestem o imaginário petista, que ilude mentes que ainda creem no PT como alguma
coisa que representou nos primeiros tempos de sua fundação. Com as centrais
sindicais e os movimentos sociais estatizados na parte de baixo do aparelho
estatal, os trabalhadores estão desarmados, necessitando urgentemente do
fortalecimento de organismos sociais que possam protegê-los contra os possíveis
ataques do governo, como já demonstrou Dilma nos ajustes do Seguro de
desemprego e da Previdência.
A agenda
de esquerda do governo petista foi duramente derrotada. Muito pouco sobrou do
projeto original. Talvez apenas nas políticas sociais. No resto, prevaleceu a
governabilidade pragmática, os acordos espúrios, o privilégio político às
classes dominantes, a cooptação, o favorecimento ao grande capital etc.
Nenhum
sinal para uma proposta reformista, que pudesse modernizar o país
democraticamente. O partido que surgiu criticando o “Estado burguês” fez dele
seu berço esplêndido, no qual pretende ficar deitado por muito tempo.
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