sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Quem era a direita, afinal?

Por Adelson Vidal Alves



O segundo turno das eleições presidenciais de 2014 trouxe, para um determinado a público, a ideia de que o que estava em jogo era um duelo particular entre direita e esquerda. E como no Brasil ser de direita significa o mal, a defesa dos ricos contra os pobres e a encarnação da corrupção, o PT conseguiu trazer para si o apoio de setores progressistas e socialmente mais vulneráveis. O discurso foi reeditado dos outros três pleitos passados.

Logo depois de vencer a eleição, porém, Dilma foi buscar as bases de seu governo nos setores conservadores. Nomeou para seus ministérios: Joaquim Levy (Fazenda), Armando Monteiro (Desenvolvimento), Kátia Abreu (Agricultura), Gilberto Kassab (Cidades), Cid Gomes (Educação), Eduardo Braga (Minas e Energia), George Hilton (Esportes).  Pessoas de convicções distantes do que se esperava de um “governo novo com ideais novas”. Nem o mais pessimista dos governistas imaginaria uma guinada à direita tão radical.

Mesmo assim, não podemos dizer que houve aqui uma traição de princípios. Era visível a inclinação de Dilma neste sentido. Ela só materializou seus acordos eleitorais. Ao contrário do PSDB, que em 2014 encorpou-se com grupos moderados e progressistas, bem diferente do que aconteceu  nas candidaturas de Serra e Alckmin, o PT foi à direita, dando a linha de frente da campanha, e agora do governo, a grupos fisiológicos e até mesmo reacionários. 

Aécio liderou uma coalizão que isolou a extrema-direita, dando espaço para o avanço de forças políticas de centro e até de esquerda. A direita propriamente dita era minoria. Talvez os ministros, hoje nomeados, pudessem agradar parte do eleitorado tucano, mas a coalizão de sustentação do tucano iria, certamente, aprontar um terreno que favoreceria um governo de centro, democrático e com espaço para a esquerda democrática e movimentos modernos da sociedade civil.

Com Dilma, vemos o triunfo de parte da direita, que governa apoiada em símbolos que vestem o imaginário petista, que ilude mentes que ainda creem no PT como alguma coisa que representou nos primeiros tempos de sua fundação. Com as centrais sindicais e os movimentos sociais estatizados na parte de baixo do aparelho estatal, os trabalhadores estão desarmados, necessitando urgentemente do fortalecimento de organismos sociais que possam protegê-los contra os possíveis ataques do governo, como já demonstrou Dilma nos ajustes do Seguro de desemprego e da Previdência.

A agenda de esquerda do governo petista foi duramente derrotada. Muito pouco sobrou do projeto original. Talvez apenas nas políticas sociais. No resto, prevaleceu a governabilidade pragmática, os acordos espúrios, o privilégio político às classes dominantes, a cooptação, o favorecimento ao grande capital etc.

Nenhum sinal para uma proposta reformista, que pudesse modernizar o país democraticamente. O partido que surgiu criticando o “Estado burguês” fez dele seu berço esplêndido, no qual pretende ficar deitado por muito tempo.


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