sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Esquerda e terrorismo

Por Adelson Vidal Alves


O ataque terrorista contra a revista francesa Charlie Hebdo que deixou 12 mortos chocou todo o mundo. Não só pelas vidas ceifadas em pleno exercício da profissão, mas pela iniciativa de tentar inibir a liberdade de expressão, uma das conquistas mais preciosas da democracia moderna.

Contudo, estranha-nos que uma parcela da esquerda relativize a gravidade do fato. O ataque terrorista, segundo esta esquerda, teria sido o resultado do teor satírico que lança mão a revista, principalmente ao satirizar Maomé, o profeta maior do Islamismo.  A chacina seria, assim, reação dos ofendidos. Muitos vão alem, chegam a dizer que o terror é compreensível na medida em que é instrumentos utilizado pelos fracos contra a política opressora do imperialismo ocidental.

Ora, qualquer tentativa de diminuir as responsabilidades de terroristas é um ato irresponsável e desumano. Trata-se de fornecer sinais de justificação de um comportamento que ameaça os avanços civilizatórios. Os atingidos por políticas opressoras devem agir nos limites da democracia, sob as conquistas da civilização, que transferiu os conflitos contemporâneos para o terreno das leis e da diplomacia. A civilização se diferencia da barbárie por não mais aceitar conflitos violentos e abertos. Contra a barbárie, o Estado de direito é o contrato que permite a solução dos confrontos atuais pela via pacífica.

Uma parte da esquerda, no entanto, sempre demonstrou apreço pela violência. Quem não se lembra na Italia do terror vermelho, que alvejava seus adversários políticos na perna, deixando-os penar a dor? Ato cruel e desumano, que não combina com forças políticas interessadas em transformar o mundo. Mesmo no Brasil, sobretudo na resistência a ditadura, grupos guerrilheiros também utilizaram métodos de tortura e justiçamentos que se aproximavam do terror. Mundo a fora organizações ditas marxistas, como as FARC, também usam do terror como forma de chegar aos seus objetivos.

Em geral, o terrorismo que cresce é o de cunho religioso, principalmente o islâmico. Mas não podemos deixar de notar que quando o alvo são países ou lugares de ligação com os Estados Unidos e o ocidente, uma parte da esquerda tende aliviar a culpa do terror. Os culpados não seriam fanáticos perversos e fundamentalistas, desprovidos de razão e compaixão, mas soldados de uma causa justa contra um inimigo mais forte. Esta esquerda costuma oferecer análises que fazem do terrorismo um ato heroico e necessário para vencer o império do mal. Sem perceber, são vozes de apoio a este grande mal que é o terrorismo.


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