segunda-feira, 17 de março de 2014

E agora Silvio Campos?

Por Adelson Vidal Alves

Com 73% dos votos, Silvio Campos será o novo presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense. Uma vitória histórica, acachapante. A frente da Chapa 1, Silvio carregou a bandeira da atual gestão, que reestruturou a instituição e conseguiu conquistas econômicas importantes para os trabalhadores. Deve, contudo, enfrentar os desafios que ora se apresentam, assim como assumir a tarefa de rever erros cometidos no passado.
Filiado à Força Sindical, central de orientação conservadora e raízes neoliberais, o sindicalismo metalúrgico da região curvou-se a uma concepção de “resultados”. Por conta disso, o trabalho de base não existe, o que dá margens para burocratização e verticalização.  Falta, ainda, um investimento em formação. Focado em um pragmatismo excessivo, o ex-presidente Renato Soares quase não trabalhou a qualificação de sua diretoria, vivendo afastado de discussões teóricas mais profundas, o que impediu interpretações conjunturais corretas nos momentos de crise, como em 2008. A atual diretoria ainda não conseguiu entender as mudanças no mundo do trabalho, as novas estratégias de gerenciamento produtivo, o encolhimento do operariado fabril, a diversificação dos trabalhadores etc. Pensam como se ainda vivessem os tempos do fordismo.
Pessoalmente, Silvio Campos ainda não tem a liderança de seu antecessor. Renato tornou-se líder nos duros tempos de oposição, carregando relativo carisma. Silvio, ao contrário, é mais um quadro administrativo, de perfil sério e semblante frio. Suas opiniões não se distanciam da central a qual é filiado. Moderado, carrega a expectativa de poder conciliar os interesses de trabalhadores e empresários, a quem diz manter repeito. Toma para o papel sindical, a missão de qualificação da mão de obra para o capital, ficando sempre de olho no mercado. Assim como seu antecessor, deverá seguir modelando a entidade para políticas assistencialistas (serviços odontológicos, planos de saúde etc), dividindo responsabilidades com o Estado. Também seguirá fazendo do 1 de maio uma festa de brindes e sorteios, esvaziando seu histórico de lutas.
A cultura sindical de parceria, a qual nem Silvio e nem Renato dão sinais de abandonar, pode servir em tempos de economia forte, mas já não dão conta quando crises econômicas fazem o capital abrir ofensiva contra o direito dos trabalhadores. Um sindicalismo moderno não deve assumir sectarismos, tendo a habilidade de recorrer a diálogos mais amplos na luta por conquistas. Todavia, não deve jamais se iludir quanto à postura patronal. Nos momentos de tensão, é preciso organizar o movimento dos trabalhadores para enfrentar conflitos de classe sem, é claro, ultrapassar os limites do regime democrático.
Silvio Campos terá pela frente um árduo trabalho, com uma categoria desmobilizada, os sindicatos em descrédito e possíveis turbulências na economia. Equilibrar-se entre a negociação e o enfrentamento, parece ser mais uma vez o desafio.
Renato conseguiu avanços, ainda que tenha ficado devendo. Silvio tem a chance de ir mais longe e recuperar o papel histórico que teve o SINDMETAL, deve, no entanto, abrir caminhos para mudanças internas e externas. Se vai conseguir, só tempo dirá. Estaremos torcendo.

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