No dia 17 de Fevereiro, o
Brasil subscreveu uma nota bizarra emitida pelo Mercosul. Nela, os países
membros dizem rejeitar “as ações
criminosas de grupos violentos que querem espalhar a intolerância e o ódio na
República Bolivariana da Venezuela como uma ferramenta política”. Fala-se
ainda em defesa da democracia e das instituições, sem tratar de forma clara o
direito de livre manifestação, atacada por milícias e forças oficiais do
governo. Este, pelo contrário, é tratado como àquele que vem buscando o
diálogo.
A Venezuela ainda não é uma
ditadura. Mantém eleições periódicas, uma Constituição legítima e um sistema
político multipartidário. Contudo, já há algum tempo que o delírio do
ex-presidente, transformado em ideologia, ameaça a estabilidade das
instituições, que devem se curvar às diretrizes do “socialismo do século XXI”,
um termo vago e que serve para justificar as decisões autoritárias do chavismo,
que serviriam para acelerar o triunfo da “revolução bolivariana”.
No nosso vizinho continental, os
poderes republicanos vem lentamente se convergindo para dentro do poder
executivo, tornado o núcleo central das decisões do país. A imprensa e as manifestações
são criminalizadas, a Assembleia Nacional, de maioria governista, tratada como correia
de transmissão dos interesses do governo.
A crise que hoje se instala,
não é um golpe em curso, mas resultado da grave situação do país, mergulhado em
inflação, violência, desemprego e escassez de alimentos. A saída para o impasse
deveria se dar por negociações, que com Maduro, transformaram-se em 20 óbitos.
Ainda sim, diante deste quadro, a diplomacia brasileira prefere oscilar entre o silêncio e o apoio discreto a Maduro. Por que um país de alta importância para o continente e com deveres democráticos não se pronuncia com dureza contra a repressão governista? Seria apenas solidariedade entre administrações que assumem afinidades?
Dilma e Lula não chegam a um
Hugo Chavez. Mas não podemos subestimar sinais administrativos que nos fazem
lembrar o caudilho morto em 2013. A articulação para denegrir a imprensa,
desacreditar o Poder Judiciário, fazendo de seus parlamentares portadores de
desobediências e provocações às decisões judiciais, o aparelhamento dos
movimentos sociais, o recurso de compra de votos para aprovação de projetos de
interesse governamental, feito crime pela AP 470 e a insistente tentativa de
tentar impor reformas por fora dos caminhos normais da democracia mostram a
face de nosso “chavismo à brasileira”.
Nossa cultura e história, de
certo modo, ainda nos torna imunes a uma conversão institucional a ideologias
autoritárias. A complexidade da sociedade civil brasileira, assim como a
estabilidade de nossos organismos republicanos, ainda guarda forças para
resistir a medidas que ponha em risco nossa democracia. Mas não custa nada,
olhando para o exemplo vizinho, nos policiarmos contra assanhamentos autoritários,
que nos últimos dez anos vem se mostrando constantes no Palácio do Planalto.
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