A vitória de Antônio Francisco Neto para a Prefeitura de Volta Redonda,
com mais de 17 mil votos de diferença, enterra a tese de um esgotamento
eminente do governo. Entretanto, não podemos ignorar que a acirrada
polarização do segundo turno, ainda que sem um alto nível político nos
debates, mostrou que a cidade exige caminhos de mudança, ainda que sob
direção do atual prefeito. O Governo Neto terá tarefas emergentes a
cumprir em seu novo mandato:
Diálogo com a sociedade e os movimentos sociais
O
início de um novo governo, destinado a produzir transições na
governança, passa, inevitavelmente, por um maior diálogo com a sociedade
organizada. A composição de seu projeto político deve ter participação
ativa dos movimentos populares, com respeito total a sua autonomia.
O
PCCS que o prefeito se comprometeu em fazer, deve ser pensado junto com
a categoria e seu sindicato, de modo a se obter acordos quanto à
necessária valorização do servidor público e o respeito pelo uso do
orçamento municipal. É necessário também a abertura de nossos espaços de
diálogo permanente (fóruns, conferências, encontros ampliados etc),
assim como a criação de leis e projetos que valorizem a democracia
direta.
Recomposição de sua base social e política
A
existência do segundo turno fez com que Neto abrisse seu leque de
alianças. Observou-se a particpação ativa de setores progressistas e de
esquerda neste final de processo eleitoral. Contudo, fica claro a
entrada de setores conservadores no bloco de poder, que podem ocupar
cargos dirigentes no novo governo. Estabelece-se, então, uma disputa
hegemônica dentro da nova administração, com forças políticas buscando
referências de governabilidade mais à direita e mais à esquerda.
Os
rumos do governo serão dados pela opção política do prefeito. Ele pode
decidir-se em tomar caminhos mais conservadores, ou simplesmente, se
apoiar em uma aliança com os setores mais progressistas e aprofundar
mudanças. Aparece neste momento a importante participação dos
movimentos sociais, já que todo governo responde ao jogo de forças
estabelecido na luta política da sociedade.
O
prefeito terá a tarefa de garantir um governo de coalizão, heterogêneo
e, possivelmente, híbrido. A correlação de forças interna e externa
darão a cara final de sua governança.
A Câmara de Vereadores
Em
uma democracia como a nossa, os projetos do executivo não saem do
gabinete do prefeito direto para a sociedade. É criada uma relação de
poderes entre o Executivo e o Legislativo. A se julgar pela questão de
partidos, Neto conseguiu maioria parlamentar. Mas, a princípio, ela
aparece como frágil e indefinida. A oposição, ao contrário, se mostra
com uma maior homogeneidade e certamente aplicará uma ação coordenada de
caráter sistemático.
Também
aqui a presença dos movimentos sociais são importantes. O governo terá
que ter habilidade no trato da articulação política com os vereadores,
mas seria de grande importância que toda sua ação política tivesse apoio
popular, de modo que sua relação com o parlamento não seja unilateral,
mas que se estenda as organizações populares, que poderão exercer
pressão em questões que envolvam conflitos de classe e interesses
corporativos.
A
intelectualidade e os artistas
Um
setor com o qual o governo já se comprometeu, e que deverá ter voz mais
ativa na nova administração, é o setor da intelectualidade e do
movimento cultural. Estes fazem parte de um grupo formador de opinião,
importante na construção de um projeto político hegemônico. A composição
do novo governo precisa estar sensível às demandas deste grupo e atento
às suas opiniões, de modo que se consolide uma base forte de
governabilidade no campo ideológico e cultural.
Tal
aproximação, contudo, não deve assumir contornos de cooptação. Toda a
relação deve ter traços dialéticos, o prefeito assumindo seu plano de
governo e os que se inserem no campo da batalha das ideias, com suas
reivindicações. A síntese desse diálogo pode dar a natureza política
deste novo governo.
Há
de se dizer, e aí falo como marxista, que as ideias não estão soltas
das bases materiais que uma sociedade produz em intenso relacionamento
de cooperação. De modo que todo o diálogo intelectual deverá levar
em conta a correlação de forças estabelecidas a partir desta base
material, senão cairíamos em um idealismo vazio, em total desconexão com
a realidade concreta da sociedade.
As
mudanças virão mas não serão automáticas. Como nos alertava o velho
Marx, a História se constrói pela ação direta dos homens, mas em
condições nem sempre desejáveis. Manter o protagonismo em respeito a
conjuntura estabelecida é um dever, tanto do governo, como dos sujeitos
sociais estabelecidos na atualidade.
Revisão textual: Regina Vilarinhos