quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Dez dias para as eleições

Por Adelson Vidal Alves

Faltam exatos dez dias para que a nação brasileira vá às urnas eleger vereadores e prefeitos. Segundo especialistas, é neste período que a grande maioria dos eleitores escolhe seus candidatos. Estes tiveram mais de dois meses para apresentar a população suas propostas, e convencer a sociedade que reunem as condições necessárias para ocupar um cargo representativo. Infelizmente, o financiamento dos grandes grupos econômicos a candidaturas de seus interesses de classe, traz desequilibrio na hora da difusão das ideías e na realização dos debates, substituidos por uma guerra entre marketeiros políticos, pouco interessados na discussão de projetos, e comprometidos exclusivamente em moldar o produto (candidato) para seus consumidores (eleitores).

Ainda sim, as eleições periódicas são uma arma poderosa na mão da população. Neste momento, o dono de uma multinacional tem os mesmos direitos que uma doméstica. Todos tem um voto.

O resultado das urnas irá compor o cenário político municipal pelos próximos quatro anos. Se você bateu a porta na cara de um candidato, tapou os ouvidos para o que se passou neste período eleitoral, ou simplesmente rejeitou prestar, nem que seja um pouquinho de atenção para o que se falou nestes dias, saiba que mesmo assim no dia 1 de janeiro de 2013 estarão sendo empossados milhares de prefeitos e vereadores em todo o país. De que adiantou seu desdém? Parte de seu destino estará agora na mão deles, e o subsídio de cada um será financiado por seus impostos, queira você ou não.

Nos dias que ainda restam, é aconselhável que olhemos com cautela a postura dos postulantes aos cargos. Os eleitores que escolheram seus candidatos, que sigam acompanhando seu desempenho de campanha. Até o sonzinho final da urna eletrônica é possível mudar o voto. Aos que ainda decidem, há tempo suficiente para verificar a história e os programas de cada um deles. Verifique no site do TSE se ele tem ficha limpa, acompanhe se ele responde por algum crime que o comprometa como homem público, enfim, vasculhe se por acaso há alguma mancha ética que o desabone para o cargo. A página policial da política será nem menor se cada um de nós punir, com o voto, aqueles que saqueiam o patrimônio nacional.

Não que a democracia se esgote em uma eleição, pelo contrário, se não houver pressão popular é provável que nossos governantes se acomodem em sua governabilidade. Como diz Frei Betto "governo é igual feijão, só funciona na panela de pressão". 

Votemos com consciência e clareza, mas sigamos nos organizando em movimentos sociais, associações de moradores, sindicatos, grêmios estudantis e outros tantos orgãos populares. É com pessoas sérias nos cargos eletivos e muita pressão social que aprofundaremos a democracia, dando assim passos mais largos em direção a uma nova sociedade, mais justa e igual.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Homenagem a Carlos Nelson Coutinho

Por Adelson Vidal Alves



          Morreu na manhã desta quinta feira, 20, o intelectual marxista Carlos Nelson Coutinho. O escritor e professor de teoria política da UFRJ lutava contra um câncer desde fevereiro deste ano.
          Carlos Nelson foi o maior responsável por minha profunda mudança intelectual. Graças a ele evolui de um marxismo ortodoxo e esquemático, para um pensamento heterodoxo e plural que situa Marx de acordo com o contexto histórico contemporâneo. 
          Há cerca de 3 anos li pela primeira vez seu polêmico ensaio "A democracia como valor universal", escrito em 1979, onde o autor defendia abertamente que o socialismo não pode se sustentar sem a devida atenção às liberdades democráticas. Desde então, me interessei por uma leitura de Marx que considerasse a questão da democracia na luta revolucionária, e me encontrei ai com a teoria de Antônio Gramsci, especialidade de Carlos Nelson. 
         Foi Coutinho quem introduziu o italiano no pensamento social brasileiro, assim como Georg Lucacks, outro grande pensador marxista, a quem chegou trocar correspondências.
          O escritor nasceu no estado da Bahia, e lecionava na Escola de Serviços Sociais da UFRJ. Autor de vários livros como "Intervenções: o marxismo na batalha das idéias", "Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político" e o mais recente "De Rousseau a Gramsci", Carlos Nelson Coutinho não se limitava a produção acadêmica. Ex-militante do PCB, quando compôs ao lado de Milton Temer e Leandro Konder a chamada "ala eurocomunista" do partidão, veio mais tarde se incorporar ao Partido dos Trabalhadores. Desiludido com os rumos do PT e seu governo, ajudou tempos depois na fundação do PSOL, legenda a qual militou até onde lhe permitiu sua saúde.
           Carlos Nelson Coutinho nos deixa um importante legado: a articulação necessária entre militância comunista e produção teórica.
          Nos deixará também muitas saudades, e um enorme vácuo no pensamento marxista brasileiro, já tão débil em sua origem e tão confuso na atualidade. No entanto, o grande ser humano que foi, somado com sua riquíssima obra ( testemunhada em livros, artigos e entrevistas que deu a revistas e jornais) servirá como exemplo e fonte de inspiração para muitos, que como eu, ainda sonham com a construção de uma nova ordem social, mais justa e humana: a sociedade comunista.