Morreu na manhã desta quinta feira, 20, o intelectual marxista Carlos Nelson Coutinho. O escritor e professor de teoria política da UFRJ lutava contra um câncer desde fevereiro deste ano.
Carlos Nelson foi o maior responsável por minha profunda mudança intelectual. Graças a ele evolui de um marxismo ortodoxo e esquemático, para um pensamento heterodoxo e plural que situa Marx de acordo com o contexto histórico contemporâneo.
Há cerca de 3 anos li pela primeira vez seu polêmico ensaio "A democracia como valor universal", escrito em 1979, onde o autor defendia abertamente que o socialismo não pode se sustentar sem a devida atenção às liberdades democráticas. Desde então, me interessei por uma leitura de Marx que considerasse a questão da democracia na luta revolucionária, e me encontrei ai com a teoria de Antônio Gramsci, especialidade de Carlos Nelson.
Foi Coutinho quem introduziu o italiano no pensamento social brasileiro, assim como Georg Lucacks, outro grande pensador marxista, a quem chegou trocar correspondências.
O escritor nasceu no estado da Bahia, e lecionava na Escola de Serviços Sociais da UFRJ. Autor de vários livros como "Intervenções: o marxismo na batalha das idéias", "Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político" e o mais recente "De Rousseau a Gramsci", Carlos Nelson Coutinho não se limitava a produção acadêmica. Ex-militante do PCB, quando compôs ao lado de Milton Temer e Leandro Konder a chamada "ala eurocomunista" do partidão, veio mais tarde se incorporar ao Partido dos Trabalhadores. Desiludido com os rumos do PT e seu governo, ajudou tempos depois na fundação do PSOL, legenda a qual militou até onde lhe permitiu sua saúde.
Carlos Nelson Coutinho nos deixa um importante legado: a articulação necessária entre militância comunista e produção teórica.
Nos deixará também muitas saudades, e um enorme vácuo no pensamento marxista brasileiro, já tão débil em sua origem e tão confuso na atualidade. No entanto, o grande ser humano que foi, somado com sua riquíssima obra ( testemunhada em livros, artigos e entrevistas que deu a revistas e jornais) servirá como exemplo e fonte de inspiração para muitos, que como eu, ainda sonham com a construção de uma nova ordem social, mais justa e humana: a sociedade comunista.
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