Um estranho paradoxo ronda a sociedade brasileira contemporânea: o desaparecimento da Política na “política”. Eu explico.
Segundo
Aristóteles, a política é a invenção humana que tem como fim corrigir as distorções
produzidas na vida em sociedade, com vista ao bem comum. Como tal, a política
deveria se municiar de constantes debates e ações que visem resolver os
problemas cotidianos de nossa existência coletiva.
No
Brasil atual, a política institucional, ou seja, a política produzida em meio às
instituições estatais representativas, vem cada vez mais se esvaziando da
essência da política aristotélica. As eleições periódicas têm se transformado
numa disputa de poder pelo poder, moldada basicamente em interesses corporativos.
A busca por uma sociedade fundada no bem comum e na “vontade geral”, para usar um conceito rousseauniano, tem sido substituída por um grande mercado de ambição e avareza, cheio de individualismos egoístas.
A busca por uma sociedade fundada no bem comum e na “vontade geral”, para usar um conceito rousseauniano, tem sido substituída por um grande mercado de ambição e avareza, cheio de individualismos egoístas.
O aparecimento
do marketing eleitoral é a prova cabal de que a “Política” (sempre no sentido
aristotélico) vem se encolhendo no cenário das disputas por cargos eletivos,
hoje resumida a construção de produtos comerciais em forma de candidaturas.
Os projetos, propostas e programas,
estão sempre subordinados ao gosto do mercado. Recorrer ao marketing como
centro do debate político é uma confissão de incapacidade republicana de governo.
A
generalização deste marketing como ferramenta norteadora das campanhas eleitorais
significaria o desaparecimento da política, pelo menos na esfera representativa
do Estado. Isto porque os problemas sociais, assim como suas soluções seriam
analisados sempre a partir de uma ótica marketeira, a saber, uma ótica
sustentada sob imagem pré-construida.
A recuperação da política é uma
tarefa urgente, sem pelo qual corremos o risco de esvaziar o poder de conteúdo
coletivo, delegando-o a pessoas e partidos sem compromissos diretos com a
preservação de um contrato social em prol do bem comum.
Estou convencido que esta tarefa
mais do que nunca vem de baixo. Ainda que o Estado esteja sujeito à
despolitização, a sociedade civil vem cada vez mais demonstrando formas criativas e
inovadoras de atuação direta nas decisões locais e nacionais.
Associações de moradores, igrejas, entidades
estudantis, sindicais e movimentos populares em geral, pelo menos aqueles que
não foram cooptados, guardam a essência da política, e podem assim interferir
na elevação do debate na esfera estatal de poder.
Não que pessoas e partidos políticos
inseridos na disputa eleitoral, em sua totalidade, tenham abandonado os
paradigmas da boa política. Mas é fato que estes estão em minoria, e assim,
sujeitos a derrotas e cooptação.
A luta pela permanência da política
no horizonte da vida social é nossa missão, e exige articulação dos vários atores sociais. Trata-se de uma batalha
para que a sociedade cumpra seu papel de garantir a organização social
humana como organização racional, preocupada especificamente com o bem de todos.
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