terça-feira, 7 de agosto de 2012

O desaparecimento da Política na "política"

Por Adelson Vidal Alves

         
             Um estranho paradoxo ronda a sociedade brasileira contemporânea: o desaparecimento da Política na “política”. Eu explico.
            Segundo Aristóteles, a política é a invenção humana que tem como fim corrigir as distorções produzidas na vida em sociedade, com vista ao bem comum. Como tal, a política deveria se municiar de constantes debates e ações que visem resolver os problemas cotidianos de nossa existência coletiva.
            No Brasil atual, a política institucional, ou seja, a política produzida em meio às instituições estatais representativas, vem cada vez mais se esvaziando da essência da política aristotélica. As eleições periódicas têm se transformado numa disputa de poder pelo poder, moldada basicamente em interesses corporativos.
            A busca por uma sociedade fundada no bem comum e na “vontade geral”, para usar um conceito rousseauniano, tem sido substituída por um grande mercado de ambição e avareza, cheio de individualismos egoístas.
O aparecimento do marketing eleitoral é a prova cabal de que a “Política” (sempre no sentido aristotélico) vem se encolhendo no cenário das disputas por cargos eletivos, hoje resumida a construção de produtos comerciais em forma de candidaturas.        
            Os projetos, propostas e programas, estão sempre subordinados ao gosto do mercado. Recorrer ao marketing como centro do debate político é uma confissão de incapacidade republicana de governo.
A generalização deste marketing como ferramenta norteadora das campanhas eleitorais significaria o desaparecimento da política, pelo menos na esfera representativa do Estado. Isto porque os problemas sociais, assim como suas soluções seriam analisados sempre a partir de uma ótica marketeira, a saber, uma ótica sustentada sob imagem pré-construida.
            A recuperação da política é uma tarefa urgente, sem pelo qual corremos o risco de esvaziar o poder de conteúdo coletivo, delegando-o a pessoas e partidos sem compromissos diretos com a preservação de um contrato social em prol do bem comum.
            Estou convencido que esta tarefa mais do que nunca vem de baixo. Ainda que o Estado esteja sujeito à despolitização, a sociedade civil vem cada vez mais demonstrando formas criativas e inovadoras de atuação direta nas decisões locais e nacionais.
            Associações de moradores, igrejas, entidades estudantis, sindicais e movimentos populares em geral, pelo menos aqueles que não foram cooptados, guardam a essência da política, e podem assim interferir na elevação do debate na esfera estatal de poder.
            Não que pessoas e partidos políticos inseridos na disputa eleitoral, em sua totalidade, tenham abandonado os paradigmas da boa política. Mas é fato que estes estão em minoria, e assim, sujeitos a derrotas e cooptação.
            A luta pela permanência da política no horizonte da vida social é nossa missão,  e exige articulação dos vários atores sociais. Trata-se  de uma batalha para que a sociedade cumpra seu papel de garantir a organização social humana como organização racional, preocupada especificamente com o bem de todos.
           

Nenhum comentário:

Postar um comentário