segunda-feira, 12 de março de 2012

O voto no Brasil

             Por Adelson Vidal Alves



             As eleições livres são parte importante de uma democracia. No Brasil, a ausência de uma reforma política de caráter democrático, faz com que a escolha dos eleitores esbarre no abuso do poder econômico. Sem o tão necessário financiamento público exclusivo de campanha, apenas os candidatos de altos recursos logram sucesso eleitoral, salvo raríssimas exceções.
            Entretanto, o processo eleitoral não deve ser ignorado, como propõe parte da esquerda. O Estado moderno, ainda que sob a hegemonia burguesa, é espaço de luta das classes trabalhadoras e ferramenta indispensável para o avanço de direitos sociais, principalmente em tempos aonde o mercado vem engolindo a cidadania popular.
Em resumo, abdicar de disputar as eleições ou mesmo ignorar uma disputa para avanços neste espaço, seria deixar campo vago para a consolidação de um poder exclusivamente conservador.
Houve ocasiões em que partidos de esquerda e de direita estavam claramente delimitados. Mas em plena “modernidade líquida”, para usar o termo usado por Zigmunt Bauman, onde tudo se esfacela, é preciso muito mais do que apenas a leitura de uma sigla para definir o campo ideológico de uma legenda. Por aqui, o Partido dos Trabalhadores governa para o capital, o socialdemocrata é neoliberal e o democrata remanescente da ditadura. Tudo se confunde na cabeça dos eleitores, cada vez mais ligado em pessoas do que em partidos.
A composição do congresso nacional e dos governos executivos na atualidade mostra a inclinação conservadora de nossos votos. Pouca gente se arrisca em falar abertamente contra o sistema, ou mesmo defender temas de alta polêmica. Para ganhar o voto vale se comprometer a não mexer em nada tão profundo, chegando ao máximo em compensar a tragédia social em que se inserem milhões de brasileiros.
Diante de um cenário tão desordenado, não é fácil estabelecer um critério coerente de voto. No nosso caso, acho que ser coerente seria ser incoerente, afinal as instituições sólidas do tempo passado, que formavam mais ou menos a homogeneidade de nossa política, encontram-se em processo de desintegração. O rico caldo cultural da sociedade civil brasileira se encontra em uma disputa sem padrões estáveis e, por isso, sem muito recorte ideológico ou mesmo de classe que indique o caráter do voto. A situação se agrava porque os partidos se divorciaram dos programas, deixaram bandeiras estruturais e se concentraram nas conjunturais.
Votar bem hoje significa ter mais atenção quanto ao conjunto de propostas de um candidato, sua inserção nas lutas sociais, sua relação com os movimentos populares, seu posicionamento frente temas contemporâneos como a laicidade do Estado, tão ameaçado por bancadas religiosas e, principalmente, por um discurso claro em relação às questões centrais de nosso país, cidade ou estado.
Obviamente os partidos políticos devem ser avaliados na hora da escolha do voto, mas não se pode ignorar a complexidade moderna, assim como a metamorfose política das legendas eleitorais. Ser de esquerda é muito mais que criticar a desigualdade social, assim como ser de direita não se resume a exaltar o caráter auto-regulador do mercado. Muita coisa mudou e precisamos estar atentos à elas.

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Revisão textual: Regina Vilarinhos

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