quarta-feira, 7 de março de 2012

Mulheres

Por Adelson Vidal Alves


Há datas comemorativas que servem de referências identitárias e o Dia Internacional da Mulher é uma delas. Ele remonta uma manifestação de operárias de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque, no dia 8 de Março de 1857, onde as manifestantes sofreram brutal repressão que deixou um saldo de cerca de 130 mulheres mortas e carbonizadas, depois de serem trancadas na própria fábrica.
O 8 de Março passou a ser considerado “Dia Internacional das Mulheres” no início do século XX, mas só recebeu caráter oficial da ONU em 1975.
Desde o protesto das operárias americanas, as mulheres em todo mundo vem acumulando vitórias sucessivas na luta por seus direitos. Ampliaram-se significativamente leis de proteção à sua integridade física e moral, assim como sua integração no mercado de trabalho e no processo de educação formal. Contudo, ainda há muito que ser feito.
O senso demográfico do IBGE de 2010 demonstrou que a renda salarial das mulheres representa apenas 70% da renda masculina, apesar de terem mais anos de estudo. Só na Região Nordeste, por exemplo, a média de estudo das nordestinas chegam à 6,4 anos, enquanto a dos homens não ultrapassa 5,6.
Apesar de leis como “Maria da Penha”, a violência contra as mulheres está longe de ser extirpada. A ONG “Centro 8 de Março”, com sede em João Pessoa, divulgou recentemente dados que mostram que só em fevereiro  deste ano, 18 mulheres foram assassinadas na Paraíba, um número que, comparado ao ano passado, cresceu cerca de 200 %. 
Entretanto, as mulheres não morrem só por assassinatos. Segundo dados do próprio Ministério da Saúde, a morte ocasionada por abortos já é a terceira causa de mortes maternas no país. O principal motivo é a criminalização da prática abortiva, que obriga milhares de mulheres recorrerem a clínicas clandestinas de aborto, devido à total falta de perspectiva do futuro. Ainda segundo dados do próprio governo, a maioria das mulheres que perdem a vida com abortos é oriunda das camadas mais pobres.
O atraso do Brasil em discutir a questão do aborto, rendeu em fevereiro deste ano críticas profundas de peritos da ONU, que cobraram do Governo Dilma políticas públicas neste campo. “As mulheres vão abortar, esta é a realidade” disse Magaly Rocha, umas das peritas, seguida de um questionamento direto de uma de suas colegas à presidenta: “O que vocês vão fazer com este problema enorme que tem?”.
O tema do aborto no Brasil é envolto a uma dimensão profundamente religiosa. Nas eleições presidenciais de 2010, as igrejas jogaram peso na questão do aborto obrigando a maioria dos candidatos a recuar em sua posição. A igreja ainda é uma das guardiãs da cultura machista da contemporaneidade. O catolicismo, por exemplo, resiste até hoje ao sacerdócio feminino, enquanto a maioria das igrejas protestantes insiste na superioridade masculina na organização da família.
Nossa sociedade é o reflexo da formação judaico-cristã e herdeira de seu imaginário machista. A superação deste reacionário ambiente cultural passa por uma luta cotidiana de organização das mulheres, que conquistaram muito, mas ainda há muito que conquistar.

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