Há datas comemorativas que servem de referências identitárias e o Dia Internacional da Mulher é uma delas. Ele remonta uma manifestação de operárias de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque , no dia 8 de Março de 1857, onde as manifestantes sofreram brutal repressão que deixou um saldo de cerca de 130 mulheres mortas e carbonizadas, depois de serem trancadas na própria fábrica.
O 8 de Março passou a ser considerado “Dia Internacional das Mulheres” no início do século XX, mas só recebeu caráter oficial da ONU em 1975.
Desde o protesto das operárias americanas, as mulheres em todo mundo vem acumulando vitórias sucessivas na luta por seus direitos. Ampliaram-se significativamente leis de proteção à sua integridade física e moral, assim como sua integração no mercado de trabalho e no processo de educação formal. Contudo, ainda há muito que ser feito.
O senso demográfico do IBGE de 2010 demonstrou que a renda salarial das mulheres representa apenas 70% da renda masculina, apesar de terem mais anos de estudo. Só na Região Nordeste, por exemplo, a média de estudo das nordestinas chegam à 6,4 anos, enquanto a dos homens não ultrapassa 5,6.
Apesar de leis como “Maria da Penha”, a violência contra as mulheres está longe de ser extirpada. A ONG “Centro 8 de Março”, com sede em João Pessoa , divulgou recentemente dados que mostram que só em fevereiro deste ano, 18 mulheres foram assassinadas na Paraíba, um número que, comparado ao ano passado, cresceu cerca de 200 %.
Entretanto, as mulheres não morrem só por assassinatos. Segundo dados do próprio Ministério da Saúde, a morte ocasionada por abortos já é a terceira causa de mortes maternas no país. O principal motivo é a criminalização da prática abortiva, que obriga milhares de mulheres recorrerem a clínicas clandestinas de aborto, devido à total falta de perspectiva do futuro. Ainda segundo dados do próprio governo, a maioria das mulheres que perdem a vida com abortos é oriunda das camadas mais pobres.
O atraso do Brasil em discutir a questão do aborto, rendeu em fevereiro deste ano críticas profundas de peritos da ONU, que cobraram do Governo Dilma políticas públicas neste campo. “As mulheres vão abortar, esta é a realidade” disse Magaly Rocha, umas das peritas, seguida de um questionamento direto de uma de suas colegas à presidenta: “O que vocês vão fazer com este problema enorme que tem?”.
O tema do aborto no Brasil é envolto a uma dimensão profundamente religiosa. Nas eleições presidenciais de 2010, as igrejas jogaram peso na questão do aborto obrigando a maioria dos candidatos a recuar em sua posição. A igreja ainda é uma das guardiãs da cultura machista da contemporaneidade. O catolicismo, por exemplo, resiste até hoje ao sacerdócio feminino, enquanto a maioria das igrejas protestantes insiste na superioridade masculina na organização da família.
Nossa sociedade é o reflexo da formação judaico-cristã e herdeira de seu imaginário machista. A superação deste reacionário ambiente cultural passa por uma luta cotidiana de organização das mulheres, que conquistaram muito, mas ainda há muito que conquistar.
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