quarta-feira, 11 de novembro de 2015

BNCC: o fim da temporalidade no ensino de história

Por Adelson Vidal Alves

March Bloch certa vez escreveu: “a história é a ciência do homem no tempo”. Já Fernand Braudel dizia que “O historiador nunca se evade do tempo da história”. Homens como eles, pensadores e cientistas da história, sabem muito bem que a temporalidade é algo precioso na vida do historiador, e de quebra, no ensino da história.

No entanto, tal compreensão vem faltando aos “especialistas” do MEC, que vem propondo uma reforma radical no conteúdo do ensino de história,  através da Base nacional Comum Curricular (BNCC) que em sua essência, vai abolir a noção de tempo histórico. Isto por que, com a desculpa de combater o eurocentrismo, os reformadores se propõem a abolir o sistema clássico francês de divisão da narrativa histórica (antiguidade, Idade média, Idade moderna e Idade contemporânea). No lugar, entraria o estudo de culturas e “mundos” próprios de alguns povos, sobreduto o dos “ameríndios” “africanos” e “afrobrasileiros”. O aluno mergulharia em compreensões de realidades culturais cercadas por muralhas étnicas, raciais e políticas. A história universal, moldada pelos feitos da tradição greco-romana, da Renascença, do cristianismo da Idade Média, da Reforma protestante, das revoluções liberais na Europa, simplesmente desapareceria dos livros de História. No lugar, a total subserviência ao multiculturalismo, sempre disposto a fragmentar.

Tamanho absurdo recebeu críticas até mesmo do ex-ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. Em Outubro, Janine fez suas primeiras críticas, citando a ausência do ensino da Inconfidência Mineira, rebelião colonial que nos legou a figura de Tiradentes. Vejam só! Teríamos um herói nacional, com feriado e tudo, sem sequer ser citado nos currículos de história. Neste caso, faria todo o sentido um jovem questionar o feriado de 21 de abril, afinal “quem é Tiradentes?”.

Janine, que retardou a apresentação do BNCC de história, ainda, criticou o texto original que “ignorava quase por completo o que não fosse Brasil e África”. O ex ministro também alertou para o perigo de se “descambar para a ideologia”.

Enfim, o MEC se propõe a mutilar a História mundial, ignorar a temporalidade como elemento de construção da identidade histórica, e se concentrar nos estudos de realidades recortadas historicamente, retirando dos alunos o direito de compreenderem a totalidade, os processos de rupturas e permanências que construíram a história do mundo. Um verdadeiro desastre. 

Um comentário:

  1. Artigo muito bem escrito parabéns..mesmo amando a história afro e sabendo de sua significativa importância para compreensão de nossa sociedade. Entendo tmb que o.estudo que a temporalidade histórica nos propõem tão importante quanto.

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