Por Adelson Vidal Alves
Nos tempos mais antigos a religião fazia todo o sentido.
Como explicar a complexidade do universo, o surgimento da inteligência, o equilíbrio
que relativamente preserva a existência da vida planetária? As explicações
mágicas acabavam tendo supremacia, por isso o advento dos mitos, como o de Adão
e Eva, o mais próximo entre nós ocidentais. Vale lembrar que mitos não são
mentiras construídas por charlatães malvados, mas narrativas próprias de um
tempo, que explicam coisas e acontecimentos.
Nos nossos dias, com o avanço fantástico da ciência, muito
do que a religião explicava perdeu sentido. Descobrimos que não somos o centro
do universo, que no Planeta Terra somos os últimos dos inquilinos, e que se
algum processo de extinção vingar, somos frágeis criaturas nas mãos da seleção
natural. Então, por que a religião ainda sobrevive? Por que a grande maioria
das pessoas ainda toma decisões importantes da vida baseadas exclusivamente na
fé?
Uma explicação rápida e marxista diria que o capitalismo
produz as condições materiais para a consciência religiosa alienada, e que o
homem recusa seu protagonismo vital para deitar suas esperanças em um ser
estranho a si próprio. Bastaria um a revolução social que colocasse a baixo a
estrutura fabricante de alienação para que Deus desapareça. Mas tal explicação,
levada ao extremo, ignora a dimensão libertadora da religião, e que ela não é
apenas um lugar de pessoas dóceis e obedientes, mas também o incentivo para
muitos lutarem por libertação. Os exemplos estão por ai: a revolução sandinista
de 1979, feita por bispos com armas na mão. Os dominicanos brasileiros, que
pagaram com a vida a resistência à ditadura. Dom Helder Câmara, Dom Waldir
Calheiros, Oscar Romero, Pastor Milton Schwantes, e tantos outros são provas
vivas do lado libertador da fé. Sendo assim, o fenômeno religioso é muito mais
complexo que imaginamos.
Mas há aqueles que negam a fé. E eles crescem cada vez mais,
segundo pesquisas. Só na China, 47% das pessoas dizem não ter fé ou religião. É
verdade que a existência de Deus já não traz tanto motivo para os debates. No
Brasil a grande maioria é religiosa, e como se sabe, os crentes não estão
dispostos a colocar sua fé a prova da razão ou da ciência. Basta crer. O ateu,
também, nega veementemente Deus, e nem mesmo se um anjo aparecesse com
trombetas e o levasse a um passeio pelas belezas celestiais ele estaria
disposto a rever sua opinião. Afinal, poderia ser uma simples alucinação.
No entanto, entre ateus e crentes, há uma categoria, digamos
intermediária: os agnósticos. A terminologia significa, etimologicamente “não
conhecimento”, e na sua filosofia está a afirmação de que mesmo que Deus
exista, ele não pode ser testado pela razão e pela ciência. Então, seria perda
de tempo pensar na sua existência, pois ela não pode ser negada ou afirmada, a
não ser pela fé, dos dois lados.
O ateísmo militante repete o fundamentalismo religioso, e
tenta apresentar ao público a impossibilidade de Deus. De fato, o mundo físico
não apresenta nenhuma evidência de Deus, pelo contrário, cada vez mais vemos
sinais de não planejamento no universo, o que fala contra qualquer proposta de
um ser supremo, inteligente e governante. Mas como dizia Carl Sagan “a ausência
de evidência não é evidência da ausência”. Isto é, pode ser que no fim da vida,
mesmo diante desta improvável possibilidade de existência divina, sejamos
surpreendidos com alguma energia cósmica, incapaz de ser captada pela realidade
empírica. Os agnósticos, assim, são aqueles que estarão um pouco mais prontos
que os ateus caso esta surpresa aconteça.
No final, tudo é uma
aposta. O ateu pode quebrar a cara ao chocar-se com a luz divina no fim da
vida, e o crente pode ter dedicado uma vida toda, rejeitando prazeres e sacrificando
escolhas, por nada. Creio que o agnóstico, ao rejeitar certezas, faz o melhor
caminho. Simplesmente resolveu caminhar sem pensar em questões que não pode
resolver aqui. Afinal, não custa nada esperar pra saber a verdade. De
preferência, esperar bastante.