Perdemos Rubem Alves. Escritor, filósofo, teólogo, poeta e educador, era um dos mais respeitados intelectuais brasileiros. Deu uma vasta contribuição em vários campos do pensamento. Na teologia, foi um dos precursores da teologia da libertação, corrente teológica que busca articular fé e libertação social. Apresentou-nos um Deus que poderia ser louvado na beleza que o mundo apresenta, um Deus livre do dogmatismo frio, o Deus presente na poesia, na arte, na contemplação, nos sonhos e na esperança.
Foi amado pelos espíritos livres, mas incomodou muitos
poderosos que se julgam detentores do monopólio do sagrado. Chegou a ser pastor
presbiteriano, deixando sua função eclesiástica no final da década de 1960. Poeta,
amava Cecília Meirelles e Fernando Pessoa, pediu, inclusive, que seu funeral
fosse regado a poesias destes poetas, sendo suas cinzas jogadas debaixo de um
Ipê amarelo.
Na educação trouxe uma contribuição ousada. Sonhava superar
o tradicional modelo educacional, visto por ele como uma espécie de centro de
torturas. Propunha uma escola alicerçada no prazer da aprendizagem, na relação
democrática entre professores e alunos, que não seria formada por dois campos distintos
do processo de ensino (professor x aluno), mas um persistente exercício de
colaboração. Em parte, viu seu sonho concretizado. Ficou fascinado ao conhecer
a Escola da Ponte em Portugal, uma escola que não há a divisão de classes e
turmas que conhecemos, não existe professores, nem os programas de conteúdos. A
experiência gerou o livro “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”.
Rubem Alves foi daqueles intelectuais que conseguem combinar,
de forma rara, teoria acadêmica com a sabedoria que nasce da alma. Rejeitou por
várias vezes os rituais que exige a liturgia das Academias. Leu e escreveu como
um grande intelectual, mas teve tempo para amar, sonhar, trazer para nossos
problemas cotidianos respostas em forma de belíssimas metáforas. Foi um
escritor de talento, seus livros nos transformam por dentro, nos liberta da lei
fria da racionalidade excessiva, e nos transporta para o divino da forma mais
prazerosa possível, sem obedecer às regras mecânicas das religiões. Sua morte é
lamentada, mas sua vida fica testemunhada em mais de 120 livros que escreveu.
Rubem Alves voa para o céu, mas não nos deixa órfãos. Ficam
aqui suas lições, seu pensamento, sua dedicação em fazer deste mundo um lugar
não só mais justo socialmente, mas também belo, poético e esperançoso.
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