quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ateismo cristão ou cristianismo ateu




Dom Helder Câmara acreditava em Deus e lutou em favor dos pobres.

Darcy Ribeiro NÃO acreditava em Deus e lutou em Favor dos pobres


Por Adelson Vidal Alves


Os filósofos de séculos passados que profetizaram o fim das religiões fracassaram em suas previsões. Em pleno século XXI, em meio aos significativos avanços na cibernética, física, astronomia e descobertas científicas, que explicam de forma convincente as origens e funcionamento do cosmos, ainda sim, milhões de pessoas modelam sua vida frente ao conjunto de regras morais e éticas organizadas por instituições religiosas.

Deus não só não desapareceu da vida humana, como aqueles que nele não creem vivem em total desconforto social quando declaram sua descrença. São chamados de loucos, desequilibrados e até endemoniados. Diante de tal impasse, alguns ateus buscaram várias formas de organização para defenderem seus direitos. É bem verdade que muitas destas organizações, como a ATEA, agem como se fossem uma igreja. Fazem proselitismo em outdoors colocados em ônibus e fiscalizam, de forma inquiridora, qualquer deslize de personalidade, que por puro vício de linguagem, associam crimes bárbaros à ausência de fé numa divindade.

Contudo, é legitimo a militância ateia na busca por cidadania, haja vista que a grande maioria das religiões condena à perdição eterna aqueles que negam a existência do divino. Na própria bíblia lemos, “Diz o néscio em seu coração: Não há Deus” (Salmos 14.1). “Quem crê e for batizado será salvo, quem não crê, porém, será condenado” (Marcos 16-16).

O Deus revelado por Jesus parece estar em confronto com a ideia fundamentalista de pena eterna, ainda mais movida por uma simples questão de crer ou não crer em uma força metafísica superior (obviamente se os textos bíblicos forem analisados por uma hermenêutica adequada).

Jesus nos revelou um Deus atuante na história, inserido nas contradições sociais e tomando sempre partido dos mais fracos, seja no episódio do êxodo, dos profetas que denunciam as injustiças, a igreja primitiva no Ato dos Apóstolos e, principalmente, na paixão e morte de Jesus, motivados por uma mensagem de libertação integral do ser humano.

Questionado sobre a salvação dos justos, Jesus disse:

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos?  Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te? E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai- vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos, porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes. Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Ao que lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais pequeninos, deixastes de o fazer a mim. E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna. (Mateus 25 34-46)

Para Jesus, a salvação está diretamente ligada a sua relação com o outro. Perceba que Jesus centrou o seu discurso na atitude frente aos oprimidos da sociedade. Para ele, ser salvo tem como condição o compromisso de luta junto aos despossuídos da sociedade.

Gente como Darci Ribeiro, Herbert de Souza (O Betinho), Paulo Freire e tantos outros, se declararam publicamente ateus, mas na prática, seguiram aos passos de Jesus, inclusive sendo perseguidos por sua opção pelos pobres. Estariam eles no Inferno?

E quanto ao clero católico que apoiou ditaduras no Cone Sul, o bispo que excomungou um médico por este salvar a vida de uma mulher recorrendo ao inevitável aborto? E quanto ao afortunado Silas Malafaia, que persegue homossexuais? Estariam eles no céu?

De minha parte, tenho tentado professar a fé de um cristianismo ético, onde a salvação passa necessariamente pela práxis libertadora. Em resumo: Não acredito em cristianismo sem opção pela libertação dos pobres.

Créditos:

Revisão textual: Regina Vilarinhos

2 comentários:

  1. A tecnologia e estudos da física avançaram significamente sim, porém a grande massa ainda é ignorante. Outro dia vi o seguinte comentário de uma menina: “Em pleno século 21 ainda existem pessoas com preconceito, não deixam pessoas com AIDS doar sangue.”, agora como podemos cobrar evolução quando ainda vemos pessoas com este tipo de instrução? Quando vejo algo assim eu lembro o quanto ainda existe pessoas ignorantes e que por mais inteligentes estejam nossos computadores, a grande massa ainda permanece na inércia.

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  2. A questão é que de fato não precisa ser cristão para fazer uma opção aos pobres,mas se for cristão obrigatoriamente tem que fazer essa opção,mas não de uma forma esquizofrenica com prega a teologia da Libertação que pode sim ter influenciado Darcy Ribeiro,por exemplo.

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