
Permite-se a esta esquerda sonhos
de ruptura anti-capitalista, mas jamais se fazendo simpática a estratégias que
busquem mudanças sociais pelo víeis do autoritarismo. Uma esquerda democrática
não toma de referência o sonho da “ditadura do proletariado”, termo infeliz
recolhido por Marx de Augusto Blanqui, que ainda que sob distorções, favoreceu
o aparecimento de correntes autoritárias dentro do marxismo e da esquerda, hoje
enfraquecidas, mas sobreviventes nos grupos minoritários de caráter extremista.
A utopia revolucionária pode e
deve permanecer viva, mas no contexto de uma proposta reformista, convencida de
que a complexidade contemporânea do poder já não aceita simplificações
grosseiras, que se faz iludir uma sectária e atiçada esquerda, afoita por tomar
o Estado de assalto.
A democracia é um caminho sem
volta. É fruto de um longo processo civilizatório, no qual as classes de baixo,
e não a burguesia, foram as protagonistas. Os parlamentos, as leis, as
liberdades de associação e organização popular foram combatidos pelos primeiros
governos burgueses, e somente com a força do movimento dos trabalhadores que se
ganhou hoje o formato que tem, ainda defeituoso, mas imprescindível para o bom
funcionamento da vida democrática.
Um conceito utilizado pelo sociólogo
francês André Gorz, que ganhou resignificação com o pensador brasileiro Carlos
Nelson Coutinho, a meu ver, traduz a estratégia central desta esquerda
democrática. O conceito é o de “Reformismo revolucionário”, aparentemente uma
contradição, mas que pode se converter em uma ação madura e vitoriosa para a esquerda
do mundo contemporâneo. Com a impossibilidade de revoluções insurrecionais,
propõe-se alterar a estruturas reformando-as, mas vejam bem, não reformá-las
para mantê-las, mas para transformá-las. O reformismo, desde que sob
intensidade adequada, é capaz de corroer a hegemonia do capital, e fazer valer
novas formas de cultura e relação social. Gramsci já falava de uma “reforma
intelectual e moral” como fator antecedente a vinda da sociedade socialista,
mas há que serem feitas reformas no interior do Estado e da sociedade. Se a social-democracia recuou quando suas
reformas ofereciam riscos ao modo de produção capitalista, a esquerda
democrática e reformista de nossos tempos deve ir adiante, sempre buscando a
radicalização democrática como processo de construção de uma nova ordem social.
Esta esquerda ainda não tem
nome, muito menos sigla. Podemos apenas sentir a falta que ela faz,
principalmente quando as lutas populares perigam se reduzir a mascarados
inconsequentes, ou quando as forças democráticas aderem ao conservadorismo,
tratando a democracia como simplesmente as “regras do jogo”. A esquerda
democrática e reformista que tanto o Brasil precisa, ainda está longe de se
firmar como uma alternativa concreta para o país. Enquanto isso vemos ciclos
populistas e autoritários se estendendo, por conta da própria incapacidade
daqueles que se assumem democratas de esquerda de fazer suas ideias circularem
no permanente processo de luta ideológica.
Essa esquerda não tem nome, nem sigla. E só terá nome ou sigla precisamente quando deixar de ser esquerda. Porque, na verdade, nenhuma esquerda pretende, de "reforma em reforma", alcançar o paraíso socialista, isso não existe. A única maneira de ele ser alcançado é pela ruptura do sistema de crenças e valores que sustentam o capitalismo, vale dizer, pela destruição da civilização judaico-cristã.
ResponderExcluirÉ exatamente por isso que o que o texto sustenta, sem perceber, não é uma reforma da esquerda, na direção do socialismo. Mas uma reforma da direita, no sentido de integrar em seu projeto político algumas demandas de cunho mais social. Nesse sentido, concordo com o articulista. Mas acho que essa iniciativa reformista não deve nascer nas esquerdas nem ter como objetivo a ruptura sistêmica, ainda que a longo prazo. Mas ter origem na direita e contemplar objetivos de curto e médio prazo, para estabilização dos conflitos, ou sua superação, em uma ordem capitalista, liberal.
Talvez, meu caro Adelson, os melhores conceitos sejam DEMOCRACIA DE MASSAS, ou DEMOCRACIA PROGRESSIVA, utilizadas pelos eurocomunistas, desde de Pietro Ingrao e Santiago Carrilo, influenciados por Gramsci e Togliatti, e sempre baseados no prefácio mais famoso do que o livro, de Engels para Rosa Luxemburg, em REFORMA SOCIAL OU REVOLUÇÃO...no que tange à formação desta esquerda, só o salto de qualidade das lutas sociais leva ao novo partido, por isso, ótimo que os atuais estejam em colapso...do novo, a incandescência molda a face...
ResponderExcluirMuito bem colocado Erico. Os conceitos apresentados são de fato importantes neste debate de uma transição socialista pela via democrática. Autores como o grego Poulantzas tbm contribuem mt.
ExcluirSim, Adelson, e se levarmos em consideração a importante obra de Perry Andersom, "CRISE DA CRISE DO MARXISMO, veremos que o debate que se trava em torno do caminho rumo ao socialismo, é sempre pela via democrática, e sempre inovando na estratégia.
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