Por Adelson Vidal Alves
Exemplos não faltam para
estender ambas as listas. O eixo que divide os dois grupos responde pelo nome
de “fundamentalismo”. Este faz de uma fé ou doutrina religiosa verdade
absoluta, e assim, a religiosidade do outro como sendo falsa, e
consequentemente um mal a ser combatido, às vezes em forma de guerras e
eliminação física. Pastores e padres cristãos condenam a homossexualidade como
pecado e o homossexual como pecador. Sua base? As escrituras sagradas, lidas ao
pé da letra, completamente descontextualizadas do seu tempo, e rigorosamente
dispensadas de hermenêuticas mais sofisticadas e sensíveis ao mundo moderno.
Lembro-me bem do documento Dominus Iesus (Senhor Jesus em latim) do
então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para Doutrina da fé do
Vaticano, que deixava bem claro a superioridade da Igreja Católica como
religião, no qual os que a ela rejeitam correm o sério risco de perderem a
salvação. Com bem menos competência intelectual, a bizarra pastora e cantora
evangélica Ana Paula Valadão joga nas costas da “idolatria” à Nossa Senhora a
culpa pelas mazelas sociais do Brasil. Em suas pregações espetaculosas pede a
Deus a conversão da “Babilônia do mal”. Ambos os casos emperram a difusão do
ecumenismo e do diálogo inter-religioso. É bom que fique claro que ecumenismo
não tem nada a ver com todos acreditarem em tudo, mas sim em concentrar os
esforços no que une a fé cristã.
Quantos padres ou pastores vemos falando da
unidade doutrinal que coloca Cristo como o messias, tanto no catolicismo como
no protestantismo? Poucos, a maioria prefere se estapear quanto aos pontos de
fé que os separa teologicamente.
As religiões são tão somente
leituras diversas do divino. Como o ser humano é plural, é normal que formas de
ver Deus somem as tantas versões que a religiosidade institucional apresenta.
São mais de 56ooo religiões no mundo todo.
Como Deus não nos veio
pessoalmente carimbar sua religião, ninguém está autorizado a se apresentar
como portador da verdade. Seria, assim, razoável que possamos viver em respeito
uns aos outros, em tolerância com a crença diferente. Afinal, Cristo, Maomé,
Gandhi ou Kardec foram todos adeptos da idéia de que a salvação está na forma
como vives, e não no templo que freqüentas.
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