quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

JESUS HISTÓRICO

Por Adelson Vidal Alves

Há pelo menos dois Jesus: o “Jesus da fé” e o “Jesus histórico”. O primeiro dispensa comentários. É o “Cristo” (“Ungido” em grego), influência para mais de dois bilhões de pessoas em todo mundo, que de formas diferentes veem nele um mensageiro de Deus. O segundo faz parte de um esforço da ciência em tentar reconstruir o homem que viveu há mais de dois mil anos atrás na Palestina.

O Jesus histórico, no entanto, oferece dificuldades para ser desvendado. Tudo por conta das poucas fontes que deixou fora das narrativas bíblicas. Os evangelhos são muito mais testemunhos de fé do que biografias históricas. Fora deles temos citações antigas de um certo Jesus por parte de Suetônio, Tertuliano, Tácito, Plínio o Jovem e Flávio Josefo. Provas materiais somente uma caixa de pedra onde consta escrito em aramaico “Tiago, filho de José, irmão de Jesus”. Em 2010 ela passou por perícia e teve sua autenticidade atestada. Como as possibilidades estatísticas de uma família naquele período e local combinarem todos estes nomes são pequenas, alguns pesquisadores acreditam ter encontrado a primeira referência material direta à Jesus.

Ainda sim, é pouco para montar o complexo quebra cabeça da vida do homem que dividiu literalmente a história do Ocidente. O que não significa que não possamos buscar outros caminhos de estudo – “A interpretação correta dos textos históricos e a arqueologia estão trazendo surpreendentes revelações sobre o Jesus histórico” diz o historiador John Dominic Croassan, autor de “O Jesus histórico: a vida de um camponês judeu no Mediterrâneo” e um dos maiores especialistas do mundo no assunto.

Os trabalhos articulados entre antropólogos, historiadores, sociólogos, arqueólogos e filólogos foram capazes de construir um consenso mínimo sobre a vida de Jesus. Ele teria nascido em Nazaré, um povoado com pouco mais de 400 pessoas, por volta do ano 3 AC, viveu e trabalhou em tarefas simples, como a de operário ou camponês (suas parábolas são cheias de referências à vida rural), pregou e foi considerado subverviso pelo poder romano e herege pela casta religiosa. Por conta disso foi crucificado e morto na década de 30 da Era cristã.

A partir daí os especialistas se dividem. Durante algum tempo houve quem apostasse que fosse um essênio, já que foi batizado por João Batista, um provável membro desta seita judaica. Contudo, os pergaminhos encontrados no Mar Morto, próximo às cavernas de onde viviam os essênios, não faziam nenhuma menção a Jesus. Além do mais, o estilo de vida asceta dos essênios se contradiz com o ativismo apresentado por Jesus na maioria das fontes.

Outro aspecto que concordam os pesquisadores é sua adesão ao movimento apocalíptico de sua época. Tudo indica que ele acreditava na proximidade do fim dos tempos, e por isso pregou fervorosamente a conversão ao Reino de Deus, o centro de sua pregação. Como esperava para breve o fim das coisas, não se preocupou em fundar uma nova religião, optando por exortar a todos para uma prática voltada para construção de um mundo onde cabiam os valores da partilha, da Justiça e da solidariedade.

As poucas fontes sobre o Jesus histórico podem ser explicadas pelo fato deste ter tido pouca importância no seu tempo, ao contrário do que nos insinua os evangelhos canônicos.  As atividades de Jesus eram comuns naquele tempo, e não há motivos para imaginarmos que sua vida chamou de algum modo atenção diferenciada. Atenção que dois mil anos depois ele a tem de sobra.

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